
Continuando o post anterior, agora falaremos das temporadas 4 e 5, o jogo e as influências que o desenho exerceu desde seu encerramento, em 1998.
Quarta Temporada (Parceiros no Perigo)
Ainda se recuperando do sumiço de Mary Jane (todos acreditam que ela e Norman Osborn foram sequestrados pelo Duende Verde), o Aranha agora tem de ajudar Robbie Robertson, que fora incriminado pelo Rei do Crime e acaba preso no mesmo pavilhão de Lápide (como mencionado anteriormente, referência às histórias publicadas em HA # 115 a 120) e de Richard Fisk para um acerto de contas. Mas o Aranha invade a prisão para salvá-lo e J.J. o ajuda, inadvertidamente, a limpar seu nome.

Em seguida, o Rei pede ajuda ao Dr. Octopus e ao Camaleão para libertar um criminoso chamado o Gato. Na verdade, um ladrão que acabara por saber o segredo da criação do Capitão América e pai de Felícia Hardy. Eles usam esse segredo para transformar felícia na Gata Negra e chantageá-la a praticar roubos enquanto mantém seu pai como refém.
Enquanto que nos quadrinhos a Gata possui alguns poderes de agilidade e equipamentos, aqui ela realmente se transforma sempre que queira, chegando até mesmo a mudar a cor do cabelo para o conhecido tom prateado das páginas das HQs, enquanto sua identidade secreta continua loira. Felícia, que sempre fora apaixonada pelo Aranha durante toda a série, acaba traindo o Rei e pedindo ajuda ao herói, o que iniciaria uma parceria entre os dois. Nos quadrinhos, essa parceria duraria anos, sendo a Gata uma coadjuvante fixa nos títulos do Aranha, até se separarem na já mencionada HA # 80. Aqui, a parceria duraria quase toda a temporada.
O episódio 4 traz o retorno de Kraven, que vira sua amada Dra. Crawford transformada em uma fera chamada Calypso. Nos quadrinhos, Calypso era uma feiticeira que dominou a mente do Lagarto nas primeiras edições de Spider-Man, de 1990, com roteiro e arte do polêmico Todd McFarlane e bateu recordes de venda nos EUA, chegando a 2,65 milhões de cópias vendidas. No Brasil, a história foi publicada como a mini-série Tormento, em duas edições, em 1992.

Aqui, o Aranha e Gata se juntam para tentar ajudar o casal a voltar à normalidade. Logo em seguida, Smythe retorna, agora trabalhando para o Cabelo-de-Prata. Sim, ao contrário do que havíamos pensado, ele não desaparecera, mas ficara preso na forma de bebê e sua filha então contratara Smythe para tentar reverter a situação. Mas o Esmaga-Aranha Supremo precisa de um espécime para poder reconstruir a máquina de Toomes baseada na plaqueta do tempo. Para tanto, ele decide sequestrar a Gata Negra, forçando o Aranha a trazer o Abutre ou o Escorpião para ele.
O herói consegue trazer o Escorpião, que na verdade deseja voltar ao normal, mas o experimento é interrompido quando o Abutre invade o local e troca sua energia vital com o Cabelo-de-Prata, tornando-se jovem novamente e devolvendo o gângster à velhice. Em seguida, destrói os aparelhos do Dr. Stillwell, acabando com as esperanças do Escorpião.
Nos episódios 6 e 7, o casal de heróis tem de lidar com a volta de Morbius, que estava em hivernação desde então. Debra Whitmann (que nos quadrinhos era amiga de Peter e até chegou a namorá-lo um tempo, mas aqui namora Flash Thompson) consegue encontrar o vampiro vivo e levá-lo até o Dr. Connors na esperança de trazê-lo de volta ao normal. Contudo, Shocker e o Dr. Landon (que assumiu o lugar de Smythe como cientista do Rei) tentam sequestrá-lo a mando do Rei do Crime, que queria se apossar dos segredos da neogênese.
Para causar ainda mais confusão, a Rainha dos Vampiros deseja possuir os segredos da máquina que transformou Morbius, com o intuito de criar um exército de sanguessugas. Acontece que essa Rainha é a mãe de Blade, que se junta ao confronto. No fim das contas a vilã escapa e a Gata Negra decide se juntar a Morbius e a Blade em sua caçada, deixando o Aranha para trás.
Durante essa temporada, Peter e Harry resolvem dividir um apartamento, tal como ocorrera nos quadrinhos. Contudo, isso acaba facilitando para que Harry encontre o uniforme de Aranha no quarto de seu amigo e some dois mais dois, exatamente como ocorre em ASM # 135/1974 (justamente história que trazia a primeira aparição do Justiceiro, publicada no Brasil em TA # 27/1991). O segundo Duende se tornaria ainda mais mortífero do que o primeiro, visto que seu único propósito é fazer o Aranha sofrer. Nessa edição, por exemplo, ele sequestra MJ, tia May e Flash Thompson, amarra uma bomba em cada um deles e obriga o Aranha a escolher um para salvar.

Nos quadrinhos, Harry vinha lutando contra as drogas desde ASM # 96-98 (no BR, TA # 16). História, aliás, que foi a primeira em décadas que a Marvel decidiu publicar sem ter o selo de aprovação do Comics Code Authority, entidade que “regulava” a publicação de quadrinhos nos EUA para “impedir uma influência maléfica às crianças”. O motivo da não-aprovação foi justamente o uso de drogas em suas páginas, mas em uma decisão história, a Marvel foi em frente e publicou assim mesmo, o que provocou uma revolução na época e permitiu que os quadrinhos trabalhassem temas mais adultos.
Voltando a Harry Osborn: a morte do pai, pela qual culpava o Homem-Aranha, aliado ao vício, acabaria acarretando-lhe um colapso nervoso que o levaria a assumir a identidade de segundo Duende Verde. No desenho, mais uma vez, há uma amenização em tudo isso e Harry passa a ouvir a voz do Duende, que o guia até as Indústrias Osborn, onde ele é atingido pelo gás que dá poderes ao vilão. Ele então tenta destruir o Homem-Aranha, ao mesmo tempo em que o Justiceiro se mete no conflito entre os dois, pois investigava o sumiço de Mary Jane Watson.
Peter logo revela que seu pai é quem era o Duende Verde, o que só piora a situação e Harry pira de vez. Novamente, confrontam-se na Ponte do Brooklynn, mas o Justiceiro acaba ajudando a detê-lo. No fim do episódio, Mary Jane retorna e o Aranha leva Harry até um hospício.
Toda a história dos duendes talvez pareça confusa ao leitor que tenha apenas como referência esse post, mas isso porque o desenho não segue a mesma cronologia da HQ. Em resumo, nos quadrinhos, é mais ou menos assim:
- Norman Osborn é o Duende Verde original. Ele descobriria a identidade secreta do Homem-Aranha e enlouqueceria, ficando obcecado em destruí-lo, o que culminaria na morte de Gwen Stacy. Logo em seguida, ele morre por seu próprio planador.
- Logo após o incidente, Harry enlouquece e se torna o segundo Duende Verde. Pouco tempo depois, seu psiquiatra se tornaria o terceiro Duende, mas acabaria morrendo e Harry não teria lembranças de tudo isso por longos anos. Se casaria com Liz Allen, com a qual teria um filho, Normie Jr.
- Anos depois, um bandido descobre um dos covis de Norman Osborn e se tornaria o Duende Macabro. Sua verdadeira identidade seria desconhecida por anos e o vilão daria muita dor-de-cabeça para o Aranha, tentando se tornar um novo senhor do crime de Nova Iorque. Finalmente, seria revelado que ele era Ned Leeds, repórter do Clarim, amigo de Peter e marido de Betty Brant. Ele seria morto por Jason Macendale, que assumiria a identidade do vilão.
- Durante a saga Inferno, Macendale atacaria a família Osborn em busca de poder. Harry assumiria novamente a identidade de Duende Verde para proteger sua família, com a ajuda do Aranha. Após o fracasso, Macendale vende sua alma para um demônio, que o transforma em uma criatura demoníaca.
- Algum tempo depois, Harry tentaria usar o Duende Verde para o bem, chegando até mesmo a ajudar o Aranha num confronto com Lápide, mas seria dissuadido dessa ideia pelo Aranha. Passam-se alguns meses, Harry volta a pirar de vez e agora retorna como vilão. Faria algumas novas tentativas de matar o Homem-Aranha, mas por fim se sacrificaria para salvá-lo.
- Eventualmente, Macendale se separaria do demônio que o possuíra, originando o Duende Demoníaco, obcecado em “castigar os pecadores”. Esse novo duende acabaria se aliando a Carnificina e a outros vilões na saga “Carnificina Total”, mas teria vida curta.
- No final da Saga do Clone, Norman Osborn retornaria, afirmando que não morrera no confronto com o Aranha anos atrás. Agora ainda mais determinado em tornar a vida do Homem-Aranha um inferno.
- A verdadeira identidade do Duende Verde original seria finalmente revelada como sendo de Roderick Kingsley, e não Ned Leeds, como se havia pensado inicialmente. Kingsley mataria Macendale e reassumiria seu papel como Duende Macabro, chegando até mesmo a confrontar Osborn, mas terminaria fugindo do país.
- Tudo o que vem depois é uma salada gigantesca e nem vale a pena mencionar.

Retomando: MJ não tem lembranças do que aconteceu com ela, mas tenta seguir a vida e aceita um papel no lugar da atriz Miranda Wilson, que desaparecera desde um incidente com Quentin Beck, antes desse se tornar Mysterio. MJ, na verdade, acaba sendo sequestrada pela própria Miranda, que pretendia trocar suas mentes e, para resgatá-la, o Aranha acaba tendo ajuda do próprio Mysterio.
Depois de tudo resolvido, Peter revela a ela sua identidade secreta e, de quebra, pede-a em casamento. Ela aceita, ao mesmo tempo em que eles têm de lidar com uma raça de homens-répteis que sequestram Curt Connors, esperando que o Lagarto seja seu líder. Enquanto o Aranha se aventura nos esgotos, MJ e a esposa de Curt procuram ajuda de Debra Whitman, que ajuda a resolver a situação.
O episódio final traz a origem do Gatuno, outro caso de um vilão que acabaria se regenerando e se tornando um aliado do Aranha. Nos quadrinhos, ele fez sua estreia em ASM # 78-79/1969 (no BR, TA # 10. Sim, a mesma edição previamente mencionada, onde consta a história em que o Camaleão assume a identidade de Peter Parker) e mostra Robbie Brown criando o traje sozinho para praticar roubos. Acabaria detido pelo Aranha mas este, ao ver que se tratava apenas de um jovem confuso, acabaria deixando-o ir.

No desenho, Robbie recebe a roupa do Rei do Crime, como recompensa por ter salvo a vida de seu filho na prisão. Contudo, o Rei estava apenas usando-o para acabar com um concorrente e deixaria Robbie dependente dele por conta das baterias que energizam a roupa. Ele então pede ajuda do Aranha para resolver a situação.
Quinta Temporada
A temporada derradeira da série já começa com o casamento de Peter e Mary Jane, que nos quadrinhos ocorreu em ASMA # 21/1987 (no BR, HA # 100/1991 ou TA # 74/1995), mas aqui, a história é bem diferente. O episódio começa com MJ e Liz visitando Harry para contar-lhe sobre o casamento, o que fatalmente acaba levando-o a pirar de novo e reassumir a identidade do Duende Verde. Ele então se alia a Smythe para produzir um bando de robôs-duende e invadir o casamento.

Curiosamente, o próprio Rei do Crime, de posse do último robô de Smythe, ajuda o Aranha e a Gata Negra a repelir os vilões da cerimônia. Mas a ameaça só acaba quando Liz abre seu coração a Harry e ele acaba desistindo do ataque.
Já os episódios 2 a 6 se centram em uma trama de espionagem, envolvendo os pais de Peter Parker, que teriam morrido como traidores. Isso remete a ASMA # 21/1968 (no BR, TA # 04/1990). Nos quadrinhos, Peter decide investigar o ocorrido, o que acaba levando-o a enfrentar o Caveira Vermelha, um inimigo do Capitão América e, por fim, limpar os nomes de seus pais, que na verdade haviam morrido como heróis, mas tiveram a reputação manchada pelo vilão.
Aqui, essa trama é um pouco mais expandida. Tudo começa quando o Rei descobre os rumores de um cientista da época da Segunda Guerra ter reaparecido. Ele sabe que o tal cientista sabe os segredos de uma arma criada pelo Caveira Vermelha e deseja se apossar dela, mas para isso, precisa do Camaleão. Ele reúne, então, o Sexteto Sinistro (lembrando que aqui no desenho são chamados de Os Seis Trapaceiros/Seis Insidiosos, dependendo do episódio), com o Abutre no lugar de Mysterio, e invade o QG da SHIELD para libertar o vilão.

Os bandidos vão até a Rússia, onde Peter e Robbie haviam viajado para investigar os segredos dos Seis Guerreiros Esquecidos, parceiros do Capitão América na época da guerra. Nos quadrinhos, o grupo é chamado de Invasores e dele, fazia parte o Tocha Humana original. Mas isso não importa, o que importa é que eles descobrem que a arma ainda está em Nova Iorque e começa uma corrida contra o tempo para encontrar as seis chaves que poderão ativá-la. Silver Sable, uma mercenária do país chamado Symkaria (e amiga do Aranha nos quadrinhos), bem como seu Comando Selvagem, se juntam ao lado dos heróis na caçada.
Como resultado, eles acabam trazendo o Capitão América e o Caveira Vermelha de volta ao nosso tempo, visto que os dois haviam ficado presos em um vórtice temporal esse tempo todo (nos quadrinhos, o Capitão havia ficado congelado desde o fim da guerra até ser encontrado pelos Vingadores nos anos 60, enquanto seu inimigo tinha dado outro jeito de ficar sob animação suspensa). O Caveira então reencontra seu filho e revela que a arma suprema era, na verdade, uma máquina que ele agora utiliza para transformá-lo no vilão Electro.
Aqui é que a coisa destoa MESMO dos quadrinhos, já que lá, Electro, um dos mais tradicionais vilões do Aranha e membro do Sexteto Sinistro original, era simplesmente um eletricista chamado Max Dillon que fora atingido por um raio ao trabalhar com fios elétricos experimentais. De qualquer forma, aqui no desenho o vilão acaba tendo o mesmo destino que seu pai e o Capitão: todos os três voltam a se perder no vórtice temporal.

Os episódios 7 e 8 trazem o retorno de Morris Bench, Homem-Hídrico, e a descoberta de uma verdade aterradora. O vilão novamente deseja ter MJ para si e o conflito acaba encerrando-se quando ela… usa seus poderes hídricos para repeli-lo??? Pois é. Aparentemente, aqui MJ tem os mesmos poderes do Homem-Hídrico.
Em busca de respostas, o Aranha acaba encontrando um laboratório secreto da Oscorp, onde o prof. Miles Warren acaba revelando a história toda. Contratado por uma pessoa que ele não revela ao Aranha (mas que se tratava do Cabelo-de-Prata e Smythe), Warren continuara sua pesquisa proibida sobre clonagem humana, mesmo após ser repreendido pelas autoridades. Até então, seus clones se deterioravam e ele acreditava que a solução talvez pudesse estar nos poderes regenerativos de Bench. Ele então coletaria uma amostra de DNA do vilão, obtida no telhado onde terminara o primeiro encontro do Aranha com ele, no qual ele acabaria evaporando.
Com isso, foi simples para Warren construir um clone do Homem-Hídrico, mas o clone detinha as mesmas memórias e exigiu que o cientista também criasse um clone de MJ, já que essa estava desaparecida. Foi simples para que o cientista obtivesse um fio de cabelo da ruiva e, misturado ao dna de Bench, construísse o clone, que foi quem acabou casando com Peter, afinal. Ou seja, ela na verdade jamais voltara, mas fora substituída por uma cópia genética e por isso não tinha lembranças do que acontecera depois da batalha na Ponte do Brooklynn.
Mas o processo de Warren ainda não fora aperfeiçoado e agora, os dois clones acabam se deteriorando. O cientista, claro, consegue escapar com uma amostra de DNA do Aranha e já sabemos no que isso vai dar. Nos quadrinhos, Miles Warren é, na verdade, o Chacal e se apaixonara por Gwen Stacy até que ela foi morta no confronto com o Duende Verde. Culpando o Homem-Aranha, ele elaboraria um plano de vingança e faria, na verdade, um clone de Gwen para enganá-lo. Não apenas de Gwen, mas também do Homem-Aranha, e se deliciaria em ver os dois se enfrentando enquanto uma bomba estaria prestes a matar Ned Leeds.
Em um lapso de consciência, o Chacal salvaria Ned, mas os destroços da explosão lhe tirariam a vida, bem como de um dos Homens-Aranha. O Aranha restante acreditaria ser o verdadeiro, Gwen partiria para destino ignorado e não se tocaria mais no assunto durante vários anos, até a fatídica Saga do Clone, que não vem ao caso agora. Tudo isso foi mostrado em ASM # 144-150/1975 (no BR, TA # 29, 30 e 31/1992 ou OSHM # 06/1997).

O Aranha mal tem tempo de se recuperar, a Madame Teia retorna, dizendo que finalmente chegara o momento da batalha para a qual ela estava lhe preparando, e que ele poderá reencontrar MJ se fizer o que ela mandar. Os episódios seguintes, portanto, tratam das Guerras Secretas (Secret Wars/1984), que foi o primeiro grande crossover da Marvel com seus maiores heróis e vilões. Feita com o intuito de vender brinquedos na época, a história por trás da saga não é lá grandes coisas, apesar de ter tido muito sucesso na época.
No Brasil, fora publicada em 1986 como uma mini-série em 12 edições e sofreu vários cortes e modificações, mas saiu então na íntegra nas edições 62 a 66 de TA, em 1994. Como mencionado anteriormente, foi de lá que surgiu o simbionte alienígena que, anos depois, daria origem a Venom.
Apesar da trama ser simplificada para caber em apenas 3 episódios, o tema central permanece essencialmente o mesmo: o Beyonder, uma criatura com poderes divinos, deseja fazer um experimento sobre o bem e o mal e sequestra heróis e vilões, alocando-os em um planeta alienígena. Enquanto que nos quadrinhos o planeta foi criação do próprio Beyonder, aqui ele joga vilões previamente selecionados – Caveira Vermelha, Dr. Octopus, Smythe, Lagarto e Dr. Destino – em um mundo paradisíaco e avança no tempo em 1 ano. Depois, diz que o Aranha tem que escolher aliados e liderá-los para libertar o planeta do jugo dos bandidos. Gente boa, não?
O aracnídeo então escolhe o Quarteto Fantástico, Capitão América, Homem de Ferro, Tempestade e Gata Negra para ajudá-lo. Adicionalmente, Reed Richards consegue fazer com que a mente do Dr. Connors controle o Lagarto e este também passa para o lado dos mocinhos. Os heróis então conseguem se juntar aos rebeldes e vencer Caveira, Octopus e Smythe, mas é claro que a verdadeira ameaça reside no Dr. Destino.
E tal como nos quadrinhos, Destino consegue roubar os poderes de Beyonder. Ele se diz um soberano benevolente, mas é claro que os heróis não engolem essa e partem pra cima, ajudando o Beyonder a recuperar seus poderes e vencendo a guerra. Eles então retornam à Terra – diferente dos quadrinhos, sem lembranças do ocorrido – mas ao Aranha, ainda resta uma missão. O Beyonder então afirma que tudo fora um teste para que ele e a Madame Teia tivessem certeza de que ele era o campeão que buscavam.

Chegamos então aos dois episódios finais, no qual eles mostram ao Aranha uma realidade onde o simbionte de carnificina juntou-se a um clone de Peter Parker e destruiu a cidade inteira. Estando prestes a destruir o multiverso inteiro, eles então pedem para que ele lidere um pequeno grupo de Homens-Aranha de outras dimensões: um Aranha sem poderes, um Aranha de seis braços, um Aranha com os tentáculos de Octopus, um Aranha de armadura metálica e o Aranha Escarlate.
Tudo isso remete, é claro, à Saga do Clone, uma fase do aracnídeo que espalhou-se pelos títulos do Aranha nos anos 90 e trouxe o clone criado pelo Chacal de volta. Essa saga é de uma confusão tão grande que eu precisaria de um post só sobre ele para explicar todos os detalhes, mas de maneira bem resumida: o clone não havia morrido após a detonação da bomba do Chacal. Ele acabaria assumindo a identidade de Ben Reilly e passaria anos viajando pelos EUA até ser obrigado a voltar ao saber que tia May estava doente (e quando é que ela não está?). Assumiria a identidade de Aranha Escarlate, mas depois descobrir-se-ia que ele era o verdadeiro Peter Parker. Peter se aposenta, ele se torna o novo Homem-Aranha, chega até a ser possuído pelo simbionte do Carnificina, mas no fim das contas, Norman Osborn retornaria, afirmando ser tudo manipulação de sua parte. Peter era, de fato, o original e Ben Reilly morre no confronto com o revivido Duende Verde.

No brasil, tudo isso foi publicado nas edições 165 a 186 de Homem-Aranha, 89 a 110 de Teia do Aranha e algumas dezenas de especiais e mini-séries, nos anos de 97 e 98. As versões do Aranha que aparecem aqui também remetem a algumas edições dos quadrinhos. O Aranha de Ferro, por exemplo, foi uma armadura utilizada durante uma guerra de gangues, em WSM # 99-100/1993 (no BR, HA # 157/1996). Já o Aractopus surgiu na mini-série Funeral for an Octopus/1995 (no BR, GHM # 56/1997). O Carnificina-Aranha, por sua vez, apareceu em ASM # 410/1996 (no BR, HA # 180/1998).
Pois bem. No desenho, os Aranhas se juntam para deter o Carnificina-Aranha, que conseguira até mesmo ter os dois duendes sob seu comando. Eles conseguem vencê-lo num primeiro momento, mas o vilão foge para a realidade do Aranha de Ferro, que é bilionário, dono de uma empresa e casado com Gwen Stacy. Mas naquela realidade, tio Ben continua vivo e Peter o utiliza para fazer o Peter Parker dominado pelo Carnificina lembrar-se de quem ele é. Ele então acaba se sacrificando para salvar o universo e desaparece por um portal.
O Aranha sem poderes revela então que na verdade ele é um ator do mundo real e o leva para conhecer Stan Lee, num encontro bem piegas que poderia ter ficado de fora. E a série termina com a promessa da Madame Teia de finalmente levá-lo a reencontrar Mary Jane, mas com o cancelamento, isso jamais ocorreria.
O jogo

A série fez tanto sucesso que, é claro, deu origem a um jogo para Mega Drive e SNES, a exemplo do que quase sempre acontece com desenhos e filmes baseados em quadrinhos. Eu falei dele rapidamente num post sobre os jogos do Mega baseados em HQ, mas agora um pouco mais em detalhes:
O jogo é bem mal-feito, cheio de bugs, movimentação truncada e a teia não serve pra quase nada. Tem cinco fases, sendo que cada uma delas tem uma fase secreta no esgoto, no qual você pode recolher itens, enfrentar o Lagarto e Ratus, e pegar o ícone de um membro do Quarteto Fantástico para pedir ajuda a qualquer momento.
O jogo não parece ter uma história, mas dá a impressão de remeter a seu predecessor, Spider-man vs Kingpin (esse sim, excelente), no qual ao final do confronto com cada boss, você ganha uma chave para desativar uma bomba no final. Nenhum deles apresenta grande desafio, já que não há muita estratégia para vencê-los, exceto descer a porrada mesmo.
A primeira fase se dá na fortaleza do Dr. Octopus e é claro, ele é o chefe, que morre fácil depois de duas bombas na cara. A segunda é num parque de diversões, onde você encontra Rino, Escorpião, Aríete (membro da Gangue da Demolição, inimigos do Thor), Mysterio e um velhinho com uma metralhadora que parece ser o Abutre. Aí você pensa “wow, tudo isso de vilão numa só fase?”. Calma. Como eu disse, eles não duram mais do que algumas porradas.
O chefe aqui é o Duende Verde, talvez o inimigo mais chatinho, por conta de seus tiros serem perseguidores, mas também não é lá grande coisas. A fase seguinte é na cidade, onde aparecem Shocker, Coruja, Destruidor (outro da Gangue da Demolição) e membros do Júri, como capangas. O chefe é Smythe, que chega a sair de sua cadeira para enfrentá-lo e sua versão se aproxima, acertadamente, mais dos quadrinhos do que do desenho.
A fase seguinte ainda é nas ruas e o chefe é o Esmaga-Aranha, igualzinho ao de HA # 154. E por fim, chega-se à prisão Ravencroft, onde enfrenta-se novamente Mysterio e Shocker, além do Halloween e Besouro. Claro, o chefe final não poderia ser outro senão Venom e a única diferença aqui é que você só pode acertá-lo no ar. Mas como há uma plataforma ali, basta esperar ele pular e lhe acertar um chute na cara 249 vezes.
O final traz o destino de cada bandido enfrentado, mas como jogo, é bem fraquinho.
Influências
Seguindo o velho lema de “nada se cria, tudo se copia”, é claro que a animação, apesar de beber da fonte dos quadrinhos originais, também faria o inverso. É possível identificar ideias ali que repercutiram em muitas coisas produzidas nos anos seguintes.
A saga da plaqueta do tempo, que envolve Cabelo-de-Prata, Rei e outros vilões, adaptada no desenho animado no final da segunda temporada, serviu como mote principal para o jogo Shattered Dimensions, sem dúvida um dos melhores jogos do cabeça-de-teia já produzidos. Lá, você controla o Aranha original, sua versão Ultimate com o uniforme negro, Homem-Aranha Noir e Homem-Aranha 2099.

O tema do multiverso mostrado no jogo, bem como nos episódios finais do desenho, também serviram de base para a recente saga “Aranhaverso” (2014) e mesmo a fantástica animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2018). Nos quadrinhos, o Aranha original lidera um exército de Homens-Aranha contra uma ameaça comum, tal qual ocorrera no desenho.
Também, é possível dizer, sem forçar muito a barra, que a ideia do Aranha de Ferro ser rico e ter sua própria companhia influenciou os quadrinhos mais recentes do herói, no qual Peter é dono das Indústrias Parker.
Em suma…
O desenho tem muitos defeitos, tecnicamente falando. A animação é ruim, há reaproveitamento de cenas em diversos episódios e a tentativa de criar cenários dos prédios em 3d é pra lá de tosca. Fora as inúmeras falhas de tradução, isso quando há alguma tradução. Por vezes chamam a Gata Negra de Black Cat, Lápide de Tombstone, Justiceiro de Punisher ou de Carrasco, Carnificina de Carnage e por aí vai.
Mas acredito que as histórias, justamente por remeterem a arcos dos quadrinhos que marmanjões como eu cresceram lendo, acabou sendo o segredo para o sucesso da série. Uma pena o cancelamento, já que uma sexta temporada prometia muito. Mas às vezes é melhor parar quando se está por cima.

Um comentário em “O desenho do Aranha (90’s): referências e diferenças com as HQs (Parte 2 de 2)”