O filme do Coringa é bom, sim. Mas não é sobre isso que eu quero falar.
Passado o Oscar, acho que é importante falar sobre quão preocupante o efeito que o filme está tendo na sociedade – a mesma sociedade que acredita em Terra plana, que vacinas não funcionam, que Nazismo é de esquerda e por aí vai – uma sociedade com preguiça de pensar.
O filme em si é bom, não há o que discutir, mas não é tudo isso que a galera pinta, não, convenhamos. Primeiro, porque tirando a atuação do Joaquim Phoenix, não há realmente nada de surpreendente. Nada que você já não tenha visto à exaustação nos últimos cinquenta anos de cinema. E segundo, a história não tem nada a ver com o Coringa.
Poderia ter sido um filme sobre um psicopata qualquer. Daria na mesma. Assim, emprestaram o nome do Coringa e misturaram com vários pedaços de outros filmes e voilà! Mas não tem nada de errado nisso. O Matrix original fez exatamente a mesma coisa – o que interessa é o resultado final.
E só um parêntese sobre a “chupinhação” a outros filmes: Taxi Driver é a mais óbvia, mas gostaria de chamar a atenção a outro filme, coincidentemente protagonizado pelo Batman (Christian Bale): O Operário. Assista e tire suas conclusões.
Enfim, voltando ao assunto, pra mim o maior defeito do filme é pintar os ricos de Gotham como os vilões da porra toda, fazendo do Coringa um coitadinho e enaltecendo a violência. O efeito? Bem, já há gente protestando no mundo inteiro usando máscaras do Coringa.
Máscaras. Do. Coringa. Para. Protestar. A. Favor. Do. Povo.
É claro, os conservadorezinhos pintaram o filme como propaganda esquerdista, que incentiva a violência e blablabla. Um monte de balela. É óbvio que não estou falando disso. Um filme de Coringa sem violência é o mesmo que ver um filme do Tarantino sem aquela explosão de brutalidades no final. Não é porque você assistiu a um filme violento que você vai sair na rua atirando nas pessoas.
Mas convenhamos, pintar os ricaços de Gotham como culpados pela miséria da população é uma visão muito simplista e uma saída fácil para fazer um filme solo do Coringa, pintando-o não como o vilão que é, mas praticamente como um anti-herói. WHAT THE FUCK???
O Coringa não é um símbolo de luta pelo povo. Ele não é o V. Ele é um psicopata, movido por nada menos que o caos, mata pelo prazer de matar e não luta por ninguém além dele mesmo.
Ok, você pode argumentar que eles quiseram dar outra leitura para o personagem do que aquela que já conhecemos. Pra mim não justifica, parece muito que está “passando pano” para psicopatia, mas isso até consigo entender.
O problema é levar isso para a realidade, fazer de um psicopata algo que ele não é: um cara legal a favor do povo. Não, o Coringa não lutaria pelo povo, não mataria os ricos só para se vingar. Ele mataria ricos, pobres, brancos, pretos, cristãos, judeus, heteros, gays, homens, mulheres e crianças. Talvez fizesse mais sentido usá-lo como um símbolo anti-preconceito, então.
Caso não tenha ficado claro, a última frase do parágrafo anterior foi uma piada. Só parem de usar o Coringa para representar algo que ele não é. Se você idolatra um psicopata, o que isso faz de você?