Convença-me do contrário.
O primeiro Rocky é, sem dúvida, uma obra-prima, acho que nisso poucos vão discordar. É difícil não torcer pelo lutador azarão que só quer seu lugar ao Sol, simpatizar com o velho mal-humorado que é o Mickey ou rir das piadas do Paulie. Também é ali que ele conhece Adrian, sua eterna companheira e, apesar do filme não ter muuuuuita história, você se emociona.
O segundo, então, vai na mesma vibe, mas ele consegue ser ainda melhor. Agora Rocky é uma estrela, ele casa com Adrian e vai esbanjando a grana que conseguiu por conta da luta com Apolo. Ao mesmo tempo, se antes Apolo era um fanfarrão que você mais queria que apanhasse, agora você chega a ficar com pena do campeão, recebendo centenas de cartas de fãs dizendo que ele é uma fraude.
Mas o grande lance é que Rocky não fica por cima durante muito tempo. A grana logo acaba e ele tem que procurar emprego como qualquer mortal. Vemos ele vivendo o drama de ter que sustentar a casa sem conseguir emprego honesto, numa época em que ainda era tabu a mulher trabalhar para ajudar. O velho gangster do filme anterior vem lhe oferecer seu cargo na família de volta, e a única coisa que ele sabe fazer, Adrian não quer que ele faça. Um dilema que afeta seu treinamento quando ele finalmente decide aceitar o convite de Apolo para a revanche.
O que só piora quando seu filho nasce e Adrian fica em coma. Algumas cenas antes Mickey berrava com ele, dizendo que para aguentar 13 assaltos contra Apolo, ele tem que treinar 13 mil horas, mas agora ele fica lá no hospital, e você pensa, “caralho, ele tinha que tá treinando, mas porra, é a mulher dele ali, e porra, que merda”.
Aí Adrian finalmente acorda e, quando ela olha pra ele com aquele sorrido bobo e diz “Vença”, Mickey berra “Que diabos ainda estamos fazendo aqui?”, aí você se arrepia. As sequências de treinamento desse filme são as melhores da série, e claro, tem a clássica cena dele correndo com a multidão atrás, até a escadaria. Épico.
A luta, então, nem se fala, é a mais dramática de todas e ele finalmente consegue o título que havia sido prometido no filme anterior. Como não gostar desse clássico?
Aí vem o 3, que dá uma caída boa, mas é, pelo menos engraçado. Rocky agora ganha uma grana legal, muda de vida e a cena de luta contra um campeão da luta livre é engraçada demais. Mr. T, então, fazendo o papel de vilão canastrão, repetindo a toda hora “Eu vou te matar, Balboa”, com aquela cara enfezada o tempo inteiro… se isso não é engraçado, eu não sei o que é.
A única cena realmente dramática do filme é a morte do Mick. Como esperado, Rock perde o primeiro confronto e Apolo surge das cinzas para treiná-lo para a revanche. Mas ele ainda está abalado pela morte daquele que foi quase um pai pra ele, está com medo e vem Adrian para salvar o dia, num diálogo bem bacana que mostra que o Stallone sabe escrever quando quer.
Claro, no final, ele ganha, nenhuma surpresa aqui, e a luta nem é lá grandes coisas. Ah, claro, o filme tem seu mérito pela trilha sonora, com a famosa “Eye of the tiger”, classicão dos anos 80.
Aí o 4. Ah, Deus, o 4, não me deixe começar. Eu até entendo por que muita gente idolatra esse filme. É o Rocky da nossa geração, que cresceu vendo essa pérola quinhentas vezes na sessão da tarde. Mas, meus amigos, o filme é ruim demais. Quando a abertura mostra uma luva de boxe com a bandeira dos EUA e uma com a bandeira da URSS se encontrando e explodindo, você já imagina que boa coisa não vem. Acho que o Stallone, não satisfeito em matar uns 2 mil comunistas lá na série Rambo, um dia deve ter olhado pro céu e perguntando “Ei, por que não trazer a guerra fria pro Rocky?”. E é só no que se fala o filme todo. O filme é uma propaganda dos EUA, mostrando como os americanos são bonzinhos e como os russos são malvadões.
Em um filme de ação dos anos 80, beleza. Cansamos de ver esse esteriótipo nos filmes do James Bond, só pra citar um exemplo. Mas no Rocky? Qual o sentido? E é claro que o Dolph Lundgren não ajuda em nada com sua atuação impecável, falando umas 30 palavras no filme inteiro. Mas vá lá, ignoremos a propaganda norte-americana gratuita, temos Apolo voltando a ser um completo babaca, insistindo em lutar contra o russo, pra… pra quê mesmo? O cara não tem absolutamente nada a ganhar e tudo a perder, mas vamos lá.
Um round, Drago já quase mata o cara. Mas não, vem a coisa macho man “Ei, não pare a luta se não eu te mato”. Claro, por que faz total sentido o cara arriscar a própria vida, tendo mulher e filho, numa luta que vale… o quê, mesmo? Ah, é, não vale nada, era só uma exibição. Beleeeeeeeza.
E aí, claro, ele morre, Stallone segura ele nos braços e olha para Drago com aquele olhar de Rambo. Aí já não é mais Rocky, é só mais um filme de vingança genericão dos anos 80. Cenas de treinamento sem novidade nenhuma? Confere. Visual barbudão só pra parecer malvadão? Confere também. Pelo menos tem o Paulie fazendo as piadas de sempre.
Ok, a luta é legal, eu admito. Mas os russos passando a torcer pro Rocky no meio dela, aham, claro, outra coisa que faz todo o sentido do mundo. Só não é mais ridículo do que o discurso do Rocky no final… “se eu posso mudar e vocês podem mudar, todo mundo pode mudar, hãããã”. Gênio. Vamos em frente.
Se a franquia morreu no 4, 5 foi o último prego no caixão. Uma tentativa forçada de voltar às origens, e pra isso é dada a desculpa de que Rocky perdeu sua fortuna por causa de uma falcatrua do contador (oi?). E aí temos o empresário malvadão caricato pra cacete e claro, a grande pérola do filme, Tommy Gunn. Logo de cara Rocky vê que o sujeito é encrenca, mas logo depois do cara vir pedir uma segunda chance, Rocky não só concorda como dá o quarto do próprio filho pra ele e passa a treinar o sujeito, deixando o filho em segundo plano. Whaaaaaat? E a grande luta do filme é uma… briga de rua? Ok, não vou gastar muito mais caracteres falando desse filme. Acho que ele fala por si.
Aí, claro, temos o Rocky Balboa, que consegue ser o retorno às origens que o 5 não conseguiu. Temos o velho Rocky bobalhão dos primeiros filmes, mas com aquele carisma que fez da franquia um clássico. Seu oponente não é um vilão, é só um cara que todo mundo odeia e que por um acaso Rocky aceita enfrentar para exorcizar os demônios do passado. Tem todo o drama com o filho, que resulta em um dos diálogos mais memoráveis de toda a série, o treinamento clássico e tudo bem construidinho pra te fazer se emocionar, como só os primeiros filmes faziam. A luta é fantástica, e mesmo com Rocky perdendo, foi uma despedida digna. Ao mesmo tempo que faz o campeão se redimir e construir uma imagem decente, mostra que Rocky Balboa é, sim, o campeão dos campeões e sempre vai ser. Não, pera… esse é o Falcão. Fica para outro post!