Essa semana saíram os ganhadores do HQMIX, parabéns a todos! E em 2019 fazem 30 anos da primeira edição do troféu, oportunidade perfeita para relembrarmos a história desta que é uma das mais tradicionais e importantes premiações da nona arte brasileira.
O prêmio foi criado pela famosa dupla de cartunistas “Jal e Gual” – José Alberto Lovetro e João Gualberto Costa, respectivamente. Os dois apresentavam uma seção de quadrinhos na TV Mix 4, da Gazeta e acabaram emprestando o nome para o troféu. Na ocasião, o programa era apresentado por Serginho Groisman, que segue como “padrinho” do prêmio até hoje.
Jal e Gual eram membros da Associação de Cartunistas do Brasil, que é a responsável pela organização desde 1989. A cada ano, o prêmio se reinventa, alterando categorias (que hoje são 27), comissão organizadora e até mesmo o próprio troféu, que sempre muda de forma para homenagear um personagem de destaque do quadrinho nacional.
A página do troféu na wikipedia lista quase todos os personagens que já emprestaram seus “corpos” para o troféu, bem como os artistas plásticos responsáveis. Desde 2001, Olintho Tahara é quem produz a arte do mesmo.
A primeira cerimônia de entrega do prêmio foi realizada no Museu da Imagem e do Som e a segunda, no Aeroanta de São Paulo. A partir da terceira, quase todas realizaram-se no SESC Pompéia, com exceção dos anos de 1999 (Centro de Educação em Moda so Senac), e de 2000 a 2002 (Theatro São Pedro).
O sistema de votação pouco mudou nesses 30 anos. A comissão organizadora é responsável pelo levantamento de todos os lançamentos em quadrinhos do ano, então faz a seleção dos indicados e abre para votação dos especialistas da área: roteiristas, desenhistas, arte-finalistas, letristas, coloristas, designers, cartunistas, jornalistas, etc. Os ganhadores são divulgados poucos dias antes da cerimônia, que como é de se imaginar, já homenageou centenas de artistas nestas três décadas de existência, conforme podemos ver na lista de ganhadores.
Esse sistema sofreu uma mudança brusca nos últimos anos, até por conta de uma polêmica que aconteceu em 2015. Na época, a organização do troféu veiculou diversas imagens com a legenda “venha bombar”, entre elas a de uma modelo de costas. Isso gerou enorme repercussão no meio artístico, em especial nas redes sociais.
E está certo. Vivemos em uma Era de mudanças de paradigmas sociais e, quando vemos algo errado, não podemos nos calar. Contudo, essa Era também é acompanhada por um sentimento de ódio nas pessoas, uma mania de perseguição, onde a cada semana se procura um novo alvo para se crucificar, sem considerar o que a pessoa fez ou deixou de fazer. O mais importante é julgar o outro e atirar pedras.
Nesse sentido, penso que a reação de muitas pessoas na época foi deveras exagerada, sendo que mesmo após a organização ter se retratado, continuaram suas “cruzadas contra o politicamente incorreto”, pedindo o boicote do prêmio, chamando Jal e Gual de machistas, misóginos e etc. Pessoas que os conheciam de perto e que sabiam que eles não eram nada disso.
Foi uma baita pisada de bola? Foi, com certeza. Mas xingaram tanto, pediram tanto suas cabeças, que o prêmio acabou perdendo seu patrocínio. Aquelas pessoas – vou chama-las de “cruzados” por enquanto – comemoraram, e foram dormir felizes.
1 ano se passou e adivinhe só? O HQMIX de 2016 foi completamente desorganizado por conta da falta de patrocínio e aqueles mesmos “cruzados” caíram de pau em cima. A hipocrisia humana realmente é uma coisa impressionante, não?
Mas eles deram a volta por cima e, a partir de 2017, adotaram um novo sistema: agora quem quer ser indicado ao prêmio tem que pagar sua inscrição. Foi a maneira encontrada para o prêmio continuar em vigor, a modelo de como é feito o Eisner Award. Particularmente, gostei muito desse novo modelo. Penso que simplifique as coisas e a carga de trabalho da comissão.
Mas é claro, os “cruzados” acham um “absurdo” ter que pagar para participar. Talvez devessem ter pensado melhor nisso, já que o prêmio é mantido por pessoas que se voluntariam todos os anos e tem uma dor de cabeça enorme para que ele aconteça. Talvez fosse bom se colocar no lugar do outro antes de escorraçá-lo, já que todos somos humanos, todos podemos errar.
Também não poderia chegar ao fim desse post sem falar do prêmio irmão, o Troféu Ângelo Agostini, que recentemente fez uma nota de repúdio em sua página do Facebook. A nota fala sobre o quão injustamente o prêmio é alvo de críticas pesadas, não sendo levado a sério por conta de ser júri popular.
O AA chegou em sua 34ª edição este ano, sendo até mais antigo do que o HQMIX, sendo bastante relevante sua importância. Então as pessoas talvez devessem pegar mais leve em suas críticas, ainda que eu concorde que talvez seja a hora do AA pensar em uma reformulação, a exemplo do que houve com o HQMIX.
Vida longa aos dois prêmios e ao quadrinho nacional!