Finalmente consegui jogar a segunda parte da saga de Talion e de Celebrimbor contra os exércitos de Sauron. E aí, será que valeu a pena?

Antes de falar sobre o novo jogo (que não é tão novo assim, já que foi lançado no segundo semestre de 2017) acho que cabe uma recapitulação do primeiro, Shadows of Mordor, de 2014. A história – que se passa antes dos eventos do Hobbit e do Senhor dos Anéis – gira em torno de Talion, um guardião de Gondor que acaba sendo atacado por uma guarnição de orcs liderada pelo Martelo, a Torre e a Mão de Sauron. O objetivo deles é o de matar Talion, sua esposa e sua filha pequena, como um ritual de sacrifício para invocar o espírito de um elfo antigo.

Eles conseguem invocar tal elfo, Celebrimbor, que não tem lembranças de seu passado, mas seu espírito se funde a Talion, banindo-o da morte. Inicia-se, então, uma jornada dupla: para Talion, vingança pela morte de sua família. Para Celebrimbor, a busca por respostas.

Na medida em que essas respostas vão surgindo, fica claro que foi Celebrimbor quem, enganado por Sauron, forjou os anéis do poder, em especial o Um Anel. Ao perceber o plano do Senhor Escuro, o elfo roubou o anel e tentou usá-lo contra seu mestre. Mas ele perdera o confronto e fora executado, juntamente com sua família, de maneira muito similar ao que acontecera com Talion.

O grande diferencial do jogo é o seu sistema nêmesis. Há uma hierarquia no exército dos orcs e eles podem subir de nível, tal como o protagonista da história. Se você é morto por um orc de posto menor, ele é imediatamente promovido a capitão. Se é morto por um capitão, esse capitão sobe de nível e estará mais forte a próxima vez que enfrenta-lo. O capitão pode, inclusive, ser promovido a Chefe e ter guarda-costas aliados a ele, o que torna mais difícil mata-lo.

Todo esse exército é mutável o tempo todo. Orcs enfrentam-se em disputas pelo poder e as coisas ficam mais interessantes quando Talion desbloqueia a habilidade de dominar orcs. Assim, você pode criar missões de assassinato, infiltrar um aliado como guarda-costas de um chefe para que este o traia quando for enfrenta-lo, e assim por diante.

Uma das missões de Talion na história é justamente fazer com que um orc aliado, Ratbag, suba na hierarquia até virar chefe. Os dois forjam uma aliança e Ratbag promete ajuda-lo. Juntos, eles conseguem atrair e matar o Martelo de Sauron, que é o primeiro a sentir a vingança do guardião.

Em seguida, Talion passa a reunir um exército de orcs sob seu comando para atacar a fortaleza do Mão Negra. Paralelamente, ele encontra um anão caçador que o ensina a dominar outras criaturas de Mordor, como caragorns (aqueles tigres-lobos que os orcs usam como montarias) e graugs (monstros enormes, bastante úteis para se causar destruição e matar grandes quantidades de inimigos).

Quando finalmente consegue um número suficiente de orcs para o ataque à fortaleza, contudo, quem o enfrenta é a Torre de Sauron. Após superá-lo, Talion parte para o confronto final com o Mão Negra, que se sacrifica em um rital e consegue separar o espírito de Celebrimbor de Talion. Sauron, então, possui o corpo do Mão Negra, mas Talion consegue destruí-lo. Evidentemente que o espírito de Sauron permanece, mas o guardião teve sua vingança. Celebrimbor, no entanto, ainda não. Com suas memórias restauradas, ele decide forjar um novo anel de poder.

Apesar de elementos de RPG, como a progressão das habilidades do personagem principal, o jogo é mais puxado para aventura e flui bem. Na medida em que Talion vai ficando mais e mais poderoso, fica cada vez mais divertido matar os orcs. Minha principal reclamação, contudo, é com relação ao final. A história é muito boa e vai alimentando expectativas quanto a um confronto épico, o que acaba não ocorrendo. Ainda assim, é um baita de um jogo, que traz anda algumas DLC’s que permitem jogar um pouco mais como Talion e Celebrimbor.

O segundo jogo começa exatamente de onde o primeiro parou, com Celebrimbor forjando o novo anel. Devido à separação prévia entre os dois, contudo, é necessário upar todas as habilidades de novo (é claro). Esse jogo traz o conceito do sistema nêmesis de volta, mas o amplia de forma fenomenal, além de trazer muitas outras referências aos lugares e personagens da Terra-Média (no primeiro, apareceram só Gollum e Saruman, muito de relance), como explicarei na sequência.

Logo de cara surge Laracna (sim, aquela aranha gigante do terceiro filme), mas em forma de mulher. Ela consegue aprisionar Celebrimbor e Talion morreria com isso, mas ela aceita trocar o espírito do elfo pelo novo anel. O jogo é dividido em 4 atos, sendo que no primeiro, Laracna atua como uma “quase” aliada, mostrando a Talion certas previsões que o guiam. É através de uma delas que ele é levado para Minas Ithil, sob forte ataque dos orcs.

Talion vai até lá para tentar impedir que a cidade caia, mas também porque ele e Celebrimbor precisam do Palantir (lembra daquela “bola de cristal” que aparece nos filmes e que Saruman usava o tempo todo?) na guerra contra Sauron. Contudo, o ataque é liderado pelos Nazgul e os gondorianos são obrigados a fugir. Minas Ithil, portanto, se torna Minas Morgul. Talvez você se lembre dessa cena do filme…

Com a cidade caída, Laracna percebe que Talion precisará de ajuda no futuro próximo e lhe devolve o anel de Celebrimbor, sem muito explicar. Começa, então, o segundo ato do jogo e todo o mapa de Mordor se abre para o jogador explorar. Não encontrei uma imagem “in-game” que desse para visualizar o mapa todo, mas a imagem a seguir ilustra bem a região:

Além de Minas Morgul, portanto, há cinco regiões que podem ser exploradas: Cirith Ungol (também faz parte do filme: é a região atrás do Portão Negro, para onde levam Frodo depois do confronto com Laracna), Gorgoroth (onde fica Barad-dur, a torre do “olho” e a Montanha da Perdição), Lithlad (um enorme deserto e um dos cenários mais legais do game, com crânios de dragões enfeitando o cenário), Seregost (região gélida e na minha opinião, das mais chatas de se locomover) e Nurnen (uma área “menos hostil”, se é que isso é possível em Mordor, com campos verdejantes).

Recomeça, então, o trabalho de recrutar orcs, mas não apenas isso. O sistema nêmesis agora conta com fortalezas em cada região, com suas próprias defesas. Você pode organizar um exército de ataque com os capitães dominados e atribuir certas vantagens a eles, como uma legião defensora ou um graug de ataque. Ao capturar a fortaleza, da mesma forma pode nomear chefes para defende-la e também configurar defesas específicas a eles, como despejadores de veneno ou dragões que lançam chamas nos portões. Além disso, deverá, necessariamente, nomear um de seus seguidores como Soberano, ou seja, o líder daquela região.

O fator “online” deixa as coisas ainda mais interessantes. Você pode capturar fortalezas de outros jogadores ou mandar seu Soberano lutar contra o Soberano de outro jogador, por exemplo. Se ele sobreviver, sobe de nível e se morrer, você tem que nomear outro soberano.

Além disso, há certos baús de recompensa que você ganha participando dessas disputas online ou simplesmente comprando. Os baús podem lhe trazer orcs seguidores com características únicas, que você pode designar para qualquer região, bem como certas habilidades, como armas de fogo, venenosas ou amaldiçoadas, seguidores, certas imunidades e assim por diante. Toda essa dinâmica certamente elevou o sistema nêmesis a outro patamar, deixando-o muito mais divertido.

E por falar em dragões, agora você também pode dominá-los, adicionalmente aos caragorns e graugs do primeiro jogo. E é simplesmente fantástico subir em cima de um dragão para cuspir fogo nos inimigos. Certamente uma das melhores inovações entre os dois jogos.

Além da história principal, Talion deve cumprir mais algumas missões secundárias. Há as missões de Gondor, onde você se alia ao guardião Baranor para auxiliar os refugiados de Minas Ithil. Há as missões de Bruz, um orc que primeiramente é seu seguidor e lhe ajuda a capturar a primeira fortaleza, mas eventualmente ele lhe trai e você é obrigado a caçá-lo com a ajuda de Ratbag (sim, ele está de volta).

Também há as missões de Carnán, uma força da natureza que precisa de sua ajuda para derrotar um Balrog (sim, um demônio de fogo nos mesmos moldes daquele que Gandalf enfrenta no primeiro filme) e de Laracna, na qual você desvenda seu passado. E finalmente, há as missões de Eltariel, uma elfa assassina enviada por Lady Galadriel para deter os Nazgul.

Após o cumprimento de todas as missões, inicia-se o Ato 3, que é o ponto alto do game, então, se você pretende jogar sem spoilers, melhor pular para a próxima parte.

************** INÍCIO DOS SPOILERS **************

Talion precisa enfrentar Isildur em sua forma Nazgul. Sim, é o mesmo Isildur que derrotara Sauron muitos anos atrás e pegara o Um Anel para si. No filme ficamos sabendo que Isildur foi morto e o anel caiu no esquecimento, mas na verdade, Sauron não o deixou morrer. Ele o trouxe de volta e lhe deu outro anel, assim como fizera com os outros reis dos homens. E assim como eles, pouco a pouco Isildur fora corrompido até se tornar um Nazgul.

Talion consegue derrota-lo e desvanecer o espectro de Isildur. Seu anel cai no chão, mas Celebrimbor não está satisfeito. Ele quer continuar dominando orcs e levar a batalha até Sauron. Sua intenção não é mata-lo e sim, dominá-lo, acabando com o domínio do Senhor Escuro e tornando-se o Senhor Brilhante de Mordor. Talion não concorda com o plano, ele não pretende trocar um tirano por outro. E por isso, Celebrimbor o trai e o abandona à própria morte.

O espírito do elfo se alia a Eltariel e eles partem para o confronto contra Sauron. Talion, então, é salvo por Laracna, que o deixa vivo tempo suficiente para que ele perceba o que tem de fazer: pegar o anel de Isildur para continuar vivo e, até que a corrupção o abrace, ele mantenha Mordor em estado perpétuo de guerra. Isso dará chance aos habitantes da Terra-Média entenderem o que está acontecendo e se prepararem para o combate.

Ele retorna a Minas Morgul e expulsa os Nazgul de lá. Agora de posse do Palantir, acompanha o confronto de Eltariel/Celebrimbor contra Sauron. Apesar de vitoriosos, Sauron consegue cortar os dedos da elfa, separando-a do anel de Celebrimbor. Sauron então funde-se a ele, o que dá origem ao Olho sobre a torre de Barad-Dur.

************** FIM DOS SPOILERS **************

Agora munido de outro anel, Talion ganha a habilidade de reviver orcs mortos em combate. Inicia-se o ato IV e última parte do jogo, também sendo a mais chata: As Guerras das Sombras. Você deve defender as fortalezas dominadas dos ataques constantes dos orcs de Sauron. Se fossem quatro ou cinco etapas, beleza, mas são DEZ. Em cada uma delas, você tem que defender vários ataques a cada uma das fortalezas. O número de ataques e o nível dos orcs que as atacam vai aumentando a cada etapa e, se você perde uma, é obrigado a reconquistá-la.

A dinâmica até é bacana. Para conquistar a fortaleza, você e seus chefes devem dominar certos pontos dentro da fortaleza (muito parecido com o que vemos em jogos estilo PvP em que você tem que controlar certas “zonas” para pontuar) e irem progredindo até ter todos os pontos dominados. No final, se ainda sobrar algum chefe vivo, você tem que derrota-lo, então às vezes é uma boa ideia matar os chefes antes de iniciar o ataque, até porque fazendo isso, você desativa a defesa atribuída àquela chefe. Finalmente, você tem de enfrentar o Soberano e derrota-lo para conquistar (ou reconquistar) a fortaleza em questão.

Para defende-la, a lógica é a mesma: você tem de impedir que os chefes que liderem o ataque tomem os pontos de controle, derrotando um por um. Se você morrer, perde a batalha e, consequentemente, a fortaleza. Então, embora a dinâmica seja legal, acaba ficando enjoativo por se repetir demais. É interessante porque você se obriga a “upar” o level dos seus orcs e ir comprando defesas para suas fortalezas, ir repondo os orcs que morreram em combate e assim por diante. Mas passar por todo esse sofrimento só para ver o final verdadeiro, já não sei se vale a pena.

É aqui que eu acho que o jogo peca, assim como seu predecessor, em entregar um final épico. Depois de passar pelas 10 etapas das Guerras das Sombras, não há um boss final com um mega confronto, nem nada do tipo. Tudo bem que não faria sentido enfrentar Sauron e derrota-lo, dentro da cronologia da Terra-Média, mas ainda assim, fica aquele sentimento de que falta alguma coisa.

E para aqueles que querem saber do destino final de Talion, recomendo o vídeo abaixo, que mostra o final verdadeiro, em português:

O game conta ainda com duas DLCs. Na primeira, “Â Lâmina de Galadriel”, você joga com Eltariel em sua missão contra os Nazgul. Após o confronto com Sauron, ela recupera o anel de Celebrimbor e enfrenta Talion, mas ele ainda não se tornou um Nazgul.

Eles aliam-se nas conquistas de territórios de Mordor, ao mesmo tempo em que ela enfrenta orcs que lhe dão armas específicas, até ter a oportunidade de enfrentar o “Sem-Lei”, um orc que havia assassinado e roubado as armas de vários elfos. Seguindo as missões principais, ela enfrenta duas “Irmãs Nazgul”, que embora não faça muito sentido dentro da cronologia, a história delas é muito legal.

As habilidades de Eltariel são ligeiramente diferentes das de Talion e, em alguns casos, até mais poderosas, já que ela pode usar sua luz de várias formas, para atacar ou se curar.

Por fim, ela volta a enfrentar Talion e apesar de derrota-lo, ele foge. Não aceitando que sua missão terminara, ela continuaria enfrentando as forças das trevas pelos anos vindouros, até Sauron ser derrotado e, com isso, libertando Celebrimbor. O final dá a entender que ela iria atrás dele, deixando um gancho para um possível terceiro jogo, talvez? Seria épico.

Já na segunda DLC, “A Desolação de Mordor”, você joga com Baranor no deserto de Lithlad. A ideia é recrutar mercenários para tomar a fortaleza do local mas, diferente de Talion e Eltariel, Baranor é mortal e se você morrer, perde tudo: habilidades compradas, mercenários contratados e equipamentos coletados. Só o progresso nas missões de história é salvo.

As habilidades também são diferentes: armado com uma balestra, um gancho e um para-quedas, essa DLC lembra muito a série “Just Cause”, o que não é nenhum demérito. Dá outra dinâmica para o jogo, com confrontos bem diferentes do que se estava acostumado com os outros personagens.

Em suma, a história principal e suas DLCs somam-se horas e horas de diversão, mesmo para quem não é fã de Tolkien. É claro que para quem é, as referências à mitologia são um prato cheio.

 

 

 

 

 

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