De 30/05 a 03/06 aconteceu a 10ª edição do FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte. Foi minha sexta participação no evento e é interessante notar como certas coisas mudaram de lá para cá, enquanto muitas continuam iguais.

Faz tempo que não faço um “como foi” dos eventos. Eu fazia muito no começo, de 2006 a 2011, mais ou menos, até porque na época, para mim tudo era novidade. Depois, a experiência era bastante similar e isso – aliado também à minha ausência em certos eventos – acabou me dando a impressão de que eu não tinha muito sobre o que falar.

É claro que rever os amigos e conhecer novos é sempre, no mínimo, gratificante. Já temos tradição de ir no restaurante La Greppia no primeiro dia do evento, tomar umas no boteco na frente da Serraria e acabar a noite indo no maleta. E apesar de já não termos a mesma energia do FIQ de 2007, onde dormíamos apenas umas poucas horas por dia e já estávamos prontos pra outra, continuamos com os bate-papos regados a cerveja, cachaça e torresmo, o que é sempre muito legal.

Contudo, esse FIQ pareceu diferente, no bom sentido (e apesar dos temores de que a greve dos caminhoneiros poderia prejudicar o evento, tudo ocorreu muito bem, obrigado). Muita coisa mudou, a começar pela data do evento, que sempre se dava em novembro e em anos ímpares. Devido a problemas orçamentários da prefeitura de BH no ano passado, o festival foi adiado para final de maio, mudança que foi encarada de forma positiva pela maioria do pessoal, por vários motivos. Primeiro, porque o clima de BH em maio/junho é bem mais ameno. Segundo, porque eventos grandes de quadrinhos no primeiro semestre do ano são raros em nosso país. E terceiro, porque a data se distancia da CCXP – reclamação constante dos quadrinistas, incluindo eu mesmo – permitindo, portanto, a participação dos interessados em ambos os eventos.

O que é mais notável, contudo, é a grandiosa expansão das mesas de artistas. O FIQ foi o primeiro evento a trazer essa ideia para o Brasil, em 2011 (impossível não pensar que o Quarto Mundo teve algo a ver com isso, mas essa é uma história para outra ocasião) e desde então, o espaço para mesas em eventos pelo país só tem crescido e o de estandes, diminuído. A Bienal de Quadrinhos de Curitiba recentemente abriu as inscrições para mesas deste ano e já anunciou que a prioridade são as mesas e os estandes estarão bem mais restritos, tendo como público-alvo as editoras e coletivos.

O layout do FIQ esse ano foi o melhor já planejado, na minha opinião. Pensado para acomodar as 237 mesas de artistas na maior parte do saguão, com os estandes ao redor e sem outras coisas no meio para “atrapalhar” o fluxo de pessoas. E ver que esse número só cresce a cada ano é muito legal. Em termos gerais, pelo menos. Nosso lado egoísta, contudo, não consegue deixar de ter a impressão de que a venda se “pulveriza” no meio de toda essa “concorrência”.

Digo “concorrência” entre aspas porque toda essa expansão é muito positiva para o mercado nacional e não necessariamente que um título concorra com outro. Tem espaço para todo mundo. E essa impressão de “vendas pulverizadas”, enquanto não temos dados para corroborar essa teoria, é apenas isso: uma impressão, mera especulação. E aí entra o ponto que eu queria chegar.

Acho que os organizadores deveriam fazer uma pesquisa após os eventos, perguntando aos artistas quanto cada um vendeu, qual é o gênero dos quadrinhos que foram vendidos, esse tipo de coisa. Porque a venda individual dar uma diminuída por conta da produção ter aumentado, é uma coisa. Mas e se, no geral, a venda toda está diminuindo? Isso seria deveras preocupante, pois significaria que estamos produzindo muito mais do que o público é capaz de consumir.

O que volta naquela velha questão das dificuldades de se produzir quadrinhos nacionais. Se, há poucos anos atrás, havia gente reclamando que não existia mercado nacional, isso já não é mais uma reclamação válida. Estão aí centenas de artistas nacionais lotando os artist’s alleys de todos os eventos para provar o contrário. Contudo, como dar vazão a essa produção, sendo que não temos uma distribuição decente em nosso país?

Ainda, como poderemos ter um diagnóstico mais preciso do mercado, se não há ninguém fazendo pesquisa séria sobre ele? Quem são os leitores? Quais gêneros são preferidos? Quais autores vendem mais? Por quê? São perguntas que devem ser feitas por profissionais que não são produtores de quadrinhos.

Enfim, o mercado cresceu e o FIQ cresceu junto. Agora temos de aprender a lidar com isso.

 

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