O véio barbudo diz que a avalanche de filmes de super-heróis é prejudicial à nossa cultura. Who cares?

Recentemente vi bastante gente postando a foto abaixo, em que Alan Moore critica o “tsunami” de super-heróis, afirmando que devemos “crescer e cuidar do mundo adulto”.

Esse trecho foi extraído do documentário “En la cabeza de Alan Moore“, do ano passado, então talvez esteja fora de contexto, mas vamos analisar o que Moore fala mesmo assim.

Primeiramente, é óbvio e inegável a contribuição do barbudo para a nona arte. V de Vingança, Monstro do Pântano, Watchmen, A Piada Mortal, Do Inferno… a lista de obras-primas que esse cara fez é interminável . Então é claro que, como roteirista, é de se admirar o cara.

Mas quanto mais o tempo passa, mais eu vejo o Moore como (guardadas as devidas proporções, é claro) um cara tipo o Renato Russo: genial na sua arte, mas um porre como pessoa. Não é de hoje que ele é conhecido por suas críticas ferrenhas aos super-heróis e em parte, eu até concordo com o cara. Tanto que há muito deixei de colecionar, pelo simples motivo de que não se fazem mais histórias como antigamente.

Eu sempre fui fã do Homem-Aranha. Comecei lendo suas histórias, fui atrás de números antigos para completar a coleção e tudo mais. Nas HQs dos anos 60 e até meados dos anos 90, poder-se-ia dizer que ainda havia um certo “respeito” com os leitores. O personagem evoluía, havia uma preocupação com a cronologia e, mais do que inventar mega-sagas todos os anos que “mudam as estruturas de todo o Universo”, parecia que a preocupação era meramente de contar boas histórias. Histórias que poderiam não ser nenhum primor da nona arte, mas que eram, pelo menos, divertidas. Entretinham.

Mas começou a avalanche de títulos de super-heróis, a indústria cresceu e a cada ano que passa, precisa se reinventar. Perdeu-se a essência. A polêmica parece vir em primeiro lugar, para vender mais quadrinhos. E foi por isso que eu parei. Quadrinhos de super-heróis são, sim, infantis, salvo uma ou outra exceção. E não tem problema nenhum com isso. É escapismo, é diversão, como assistir Os Simpsons ou ao Chaves. Agora, Moore associa isso com “recusa de crescer” e pior, faz inferência de que essa é uma das causas com o fato de Trump ter sido eleito. Calma lá.

Eu parei de ler super-heróis por uma escolha pessoal. Não significa que quem leia até hoje não saiba diferenciar o que é quadrinho do mundo real. (Ok, talvez existam algumas pessoas que não saibam mesmo). Mas o Trump não foi eleito porque as pessoas gostam de super-heróis. Muito pelo contrário. Se todos realmente lessem os quadrinhos de heróis, que lutam contra o preconceito, a guerra e a tirania, muito provavelmente, o resultado da eleição teria sido outro. Trump foi eleito porque estamos regredindo para a Idade Média, onde a igreja manda no Estado, pessoas acreditam que a Terra é plana, não existe aquecimento global e vacinas fazem mal. É esse tipo de imbecil que elege o líder dos imbecis.

Olhando por outro aspecto, sim, me incomoda um pouco o “tsunami” de filmes de super-heróis. Hollywood é assim. Eles acham algo que dá dinheiro e não largam o osso. Daí resulta nesse “tsunami” de filmes do mesmo gênero e, no meio disso tudo, um monte de porcaria. Mas quer saber? Foda-se. Faz parte.

Eu odeio Harry Potter, Transformers, Velozes e Furiosos, Crepúsculo, Jogos Vorazes e todos os similares e afins que também explodiram aí nos últimos anos. E assim como odeio esses filmes, sei que também tem gente que vai dizer que odeia os filmes de super-heróis. E eu entendo. Você não vai achar nenhuma obra-prima ali. É cinema pipoca, é diversão. E para mim… para nós, nerds, que crescemos lendo Marvel e DC, a coisa fica ainda mais especial. É como se estivéssemos lendo um gibi em movimento na tela grande. Vocês sabem que não é exagero.

Pode ser que os super-heróis viraram uma “merda” hoje em dia. Pode ser que você não encontre nada de culturalmente relevante nas páginas de um gibi da Marvel. Pode ser que não tenha nada com o mesmo impacto de um V de Vingança, Do Inferno, Persépolis ou Maus. Pode ser. Mas lembremos o seguinte: os nossos gibis da infância nos ensinaram conceitos que você não encontra em nenhum livro de escola, ou da Bíblia, ou do Alcorão. E foram a porta de entrada para obras mais relevantes.

Com os quadrinhos de super-heróis eu aprendi o que é honra. Foi por causa de uma história do Aranha sobre drogas que a Marvel quebrou o Comics Code Authority, que impedia as editoras de fazerem histórias do tipo. Com os X-Men, aprendi sobre preconceito.  Com o Homem-Aranha, Batman ou Super-Homem, aprendemos o valor da vida, pois eles se recusam a matar, não importa o motivo. Conceito meio antiquado e sem sentido hoje em dia? Talvez. Mas os quadrinhos podiam se dar a esse luxo. Não é realidade, é ficção. Por que não usar um pouco de licença poética para ensinar às crianças conceitos morais?

Se adultos continuam lendo até hoje, é por um sentimento de nostalgia. E ensinam seus filhos a ler com os gibis, porque querem que eles sintam o mesmo que sentiam quando de suas próprias infâncias. É por isso que os olhos esbugalham quando hoje, depois de velhos, vemos o trailer de Guerra Infinita.

Concluindo, Sr. Moore, pode reclamar o quanto quiser. A indústria vai continuar produzindo filmes de super-heróis. E eu vou continuar assistindo. Isso não faz de mim responsável pelo mundo de bosta que está aí diante de nós. Responsáveis, somos todos nós, com filmes de super-heróis ou não.

 

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