Título estranho, não? Para quem não conhece, trata-se de um livro escrito por Robert M. Pirsing em 1974 e continua sendo vendido até hoje. As opiniões sobre ele se dividem, mas o que me deixou curioso e me levou a lê-lo foram duas coisas. Primeiro, numa aula de mestrado, um professor de Metodologia Científica indicou esse livro. E segundo, que um ou dois dias depois, Yorick (o protagonista da série Y – The Last Man, que eu estava lendo na época) afirmou que esse era seu livro de cabeceira. Decidi ver qual era a do livro, então, e irei compartilhar minha opinião com quem tiver interesse…
Pois bem… a história não tem nada demais: é sobre um homem e seu filho, que estão de férias e viajam de motocicleta junto com um casal de amigos e, quando fazem as paradas, filosofam sobre a vida e tudo o mais. Não parece ser grandes coisas, certo?
É fácil ver porque as opiniões sobre ele se dividem. Não se trata de um livro comum. É até meio difícil classificá-lo. Não é um livro didático, embora tenha muito sobre metodologia científica, filosofia e a ciência como um todo. Também não é um livro de auto-ajuda, mas muita coisa do que o protagonista diz poderia ser encarada como conselhos que você poderia seguir para a sua vida.
É um livro de aventura, então? Também não, embora tenha um quê de suspense. Não da viagem em si, mas o fato é que (vou soltar um spoiler, mas isso não influencia em nada) o protagonista tinha uma outra personalidade antigamente, a quem ele chama de Fedro.
Enquanto viaja, nosso protagonista (cujo nome real nunca é revelado) fala sobre Fedro, e sua busca incessável sobre a verdade. Busca esta que o levou a enfrentar a Universidade, os alunos e a própria sanidade mental. Sabemos que Fedro enlouqueceu e que dele emergiu a nova personalidade do protagonista. Isso nos é dito no primeiro quarto do livro.
Mas não fica claro o que levou Fedro à loucura. Essa jornada é contada pouco a pouco, na mente do protagonista, enquanto ele está sobre as duas rodas e não pode conversar com ninguém além de si mesmo. Para contar essa história, entretanto, ele precisa entrar em vários detalhes que foram pesquisados por Fedro. E é isso que torna a leitura interessante, especialmente para quem tem um “pé” no lado acadêmico de sua profissão, ou de quem é adepto à Ciência no geral.
Para quem não é, é fácil entender porque a leitura se torna chata. Não há grandes cenas de ação, ou de suspense, e nem um grande conflito a ser resolvido. Você não sabe para onde a história vai rumar. O máximo que pode atrair a atenção desse tipo de leitura é a jornada de Fredo, que lembra um pouco o que acontece com John Nash em “Uma Mente Brilhante”.
Mas fica a dúvida se isso é o principal mote do livro, ou se é apenas pano de fundo para que o autor traga à tona suas próprias idéias sobre como é feita Ciência hoje em dia. E como poderia ter sido, se os sofistas não tivessem sido derrotados séculos atrás.
O protagonista fala sobre muita coisa, ficando difícil até listar todos os assuntos abordados no livro, depois volta em Fedro e à sua luta, que começa basicamente por causa da busca do mesmo pela Qualidade. Esta coisa que todo mundo sabe o que é, mas é tão difícil de ser definida. Ele pergunta a seus alunos, pesquisa, vai atrás, forma teorias e mais teorias, revira a Ciência de cabeça para baixo. É essa jornada que acompanhamos… e por isso, volta a questão: qual é o foco da história? A jornada de Fedro? As idéias por trás dela? A viagem de motocicleta? Ou será que a viagem da motocicleta é apenas uma metáfora por trás da jornada de Fedro, e esta jornada é que evoca idéias poderosas que nos fazem pensar sobre… bem, sobre tudo! Será que é isso? Eu diria que sim… mas essa é só minha opinião… com certeza, se você for ler o livro, terá outra completamente diferente.
Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas causa esse efeito nas pessoas. Faz você pensar de verdade.