Ou: Por que a adaptação de Peter Jackson é tão genial?

Depois de terminar de ver a primeira temporada de Os Anéis do Poder, decidir corrigir um erro que há muito me perturbava: até hoje não havia lido os livros do Senhor dos Anéis, apesar de ter visto e revisto os filmes incontáveis vezes. Sempre fico curioso em saber quais as diferenças entre a obra original e a adaptação e é sempre bom descobri-las por si próprio. Adicionalmente, também precisava finalmente entender as polêmicas por trás de alguns famosos “cortes” que Jackson precisou fazer em seus filmes e o porquê disso.

Evidentemente que esse é um post destinado a quem não leu e não tem interesse de ler os livros, mas talvez, assim como eu, possa ficar curioso com as diferenças mencionadas, embora talvez não tenha a mesma paciência que eu tive. Então, vai aqui um resumo sobre as principais, já que enumerar todas seria tarefa praticamente impossível, ou mesmo precisaria, no mínimo, de um livro inteiro para contemplá-la.

Primeiramente, é preciso esclarecer que, apesar de O Senhor dos Anéis ser frequentemente vendido na forma de uma trilogia, trata-se na verdade de um compêndio de seis livros:

  • Livro I: narra a descoberta do anel por Frodo e sua fuga até Valfenda;
  • Livro II: narra a formação da Sociedade do Anel, até seu trágico rompimento;
  • Livro III: narra a demanda dos três companheiros e a batalha no Abismo de Elm;
  • Livro IV: narra a jornada de Frodo, Sam e Gollum até as profundezas de Mordor;
  • Livro V: narra os preparativos de Minas Tirith para a guerra vindoura e a batalha por Gondor;
  • Livro VI: narra a conclusão da demanda e suas consequências;

A decisão de Jackson, portanto de contar a história em ordem cronológica, intercalando cenas que ora seriam de um livro, ora de outro, se mostra bastante acertada, principalmente depois que a Sociedade se separa, pois fica mais claro ao espectador a ordem dos acontecimentos.

LIVRO I

0: Prólogos

Acertadamente, o filme da Sociedade do Anel começa com um resumo sobre a Terra-Média, a guerra contra Sauron na Segunda Era, a jornada do anel e de parte dos eventos que ocorreram no livro anterior, O Hobbit, no qual Bilbo encontrara o Um Anel depois de Gollum tê-lo perdido.

Aqui já podemos ver algumas diferenças. Na versão estendida, podemos ver uma cena em que Isildur tenta usar o Anel para escapar de uma armadilha dos Orques, mas é traído pelo mesmo. Nada disso, contudo, é narrado no livro, que possui apenas um prólogo a respeito dos Hobbits, do Condado e do achado do Anel por Bilbo. Há, evidentemente, mais detalhes nesse relato, incluindo uma versão que Bilbo inventara sobre como tomara posse do objeto, a qual Gandalf jamais acreditara, mas também não dera muita atenção naquele momento.

Todo o resto sobre o passado da Terra-Média vai sendo contato aos poucos ao longo dos livros, em diálogos ou em pequenos apartes do próprio autor para contar a história desse ou daquele personagem.

Também cabe destacar que Tolkien era fascinado por linguagem e poesia, tendo ele mesmo criado as línguas utilizadas no mundo de sua obra. Dizia ele que, na verdade, seu livro era uma tradução em inglês do Livro Vermelho escrito por Bilbo e, posteriormente, por Frodo, Samwise e Meriadoc.

1: Uma Festa muito Esperada

A versão estendida começa mostrando Bilbo fazendo um relato dos Hobbits em seu diário, mais ou menos como o supracitado Prólogo. A festa em si se dá mais ou menos da maneira descrita no livro, muito embora, nesse último haja uma extensa descrição dos preparativos de Bilbo sobre sua partida, sobre as famílias do Condado e tudo o mais. Frodo quase não aparece aqui, de maneira que de imediato já vemos o reencontro de Bilbo com Gandalf, ou seja, não o primeiro encontro de Frodo com Gandalf, mas foi uma adição interessante feita por Jackson, já que é sempre importante introduzir o protagonista ao público o quanto antes.

Na versão estendida, há ainda uma cena em que Bilbo está frustrado, buscando o anel em meio a sua bagunça, o que evidencia sua obsessão pelo mesmo e torna ainda mais impactante a cena em que ele consegue deixá-lo para trás.

Há que se destacar de imediato o cuidado de Jackson com os detalhes, pois logo antes desta cena, vemos de relance a plaqueta na frente da toca de Bilbo, que diz “Entrada Proibida a não ser para tratar da festa”, tal como descrito no livro.

Na festa, não há a travessura com fogos feita por Merry e Pippin, colocada no filme simplesmente para introduzir os dois personagens.

A diferença, contudo, é que no livro, Gandalf já estava a par da “brincadeira” de Bilbo. É claro, sua frase sarcástica está presente em ambos: Não conheço a metade de vocês a metade do que gostaria, e gosto de menos da metade de vocês a metade do que merecem.

No filme não fica claro, mas aquela ocasião também é aniversário de Frodo. O diálogo final entre Bilbo e Gandalf, no qual fica evidente o desejo de Bilbo de manter o Anel, também transcorre mais ou menos igual. Bilbo se vai, Frodo entra logo depois e Gandalf parte. Novamente, a passagem de tempo, no filme, é naturalmente mais apressada. No livro, passam-se meses entre as idas e vindas de Gandalf no Condado, enquanto ele investiga a história do Anel. Nesse meio tempo, ficamos conhecendo Merry, Pippin e Sam e, como tais sequências entediantes não são mostradas no filme, Jackson resolve isso de forma inteligente mais à frente, fazendo os dois se encontrarem com Frodo e Sam no momento em que ambos estão fugindo do Condado.

2: A Sombra do Passado.

No livro, quando Gandalf finalmente retorna, é para contar a Frodo a história de Sauron e dos anéis de poder. Parte do diálogo travado aqui é transferido, nos filmes, para a cena em que eles estão em Moria. Passagens como Gostaria que o anel nunca tivesse vindo até mim e Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem a vida. Você pode dá-la a eles? Então não seja ávido demais por conferir a morte em julgamento.

Palavras que Frodo se recorda mais à frente em sua jornada, quando finalmente conhece Gollum. Essa transferência de cenas ocorreram, imagino, porque naquele momento o mais importante era deixar claro o perigo pelo qual Frodo estava passando por conta do Anel e, diferente de como ocorre nos livros, não é interessante manter diálogos muito mais longos do que o necessário, sob pena de entediar o espectador.

Também não há tempo de descrever isso nos filmes, mas Gandalf não desvenda o segredo do Anel simplesmente relendo pergaminhos antigos. Ele e Aragorn também acabam caçando Gollum e obrigando-o a falar. Há uma cena rápida no filme, no entanto, quando ele se aproxima de Minas Tirith e vê Mordor ao longe, cuspindo raios e luzes vermelhas, o que deixa claro que o mal está retornando. No livro, são mencionados boatos sobre o retorno de Sauron e da guerra iminente, bem como relatos de ataques de Orques em Rohan e Osgiliath.

Tal como no filme, no livro Samwise Gamgi está trabalhando no jardim de Frodo e acaba ouvindo boa parte da conversa. Sabendo que Frodo não tem muita escolha a não ser sair do Condado, mas ficaria mais tranquilo se não fosse sozinho, ele pede para que Sam o acompanhe em sua jornada.

3. Três Não é Demais
4. Um Atalho para Cogumelos
5. Uma Conspiração Desmascarada
6. A Floresta Velha
7. Na Casa de Tom Bombadil
8. Neblina nas Colinas-dos-túmulos

Diferente dos filmes, em que a saída do Condado e a chegada a Bri se dá de forma relativamente rápida, há uma longa jornada entre esses dois pontos, que é descrita em todos estes capítulos. Em primeiro lugar, Frodo não deixa o Condado imediatamente. Há uma série de preparativos para iniciar sua jornada, sendo entre elas vender a toca de Bilbo onde morava, e se mudar para uma região na qual sua partida não fosse tão notada.

Quando finalmente pegam a estrada, Frodo e Sam inicialmente tem apenas a companhia de Pippin, sendo que Merry os encontraria mais à frente. Antes disso, porém, há a clássica cena do primeiro encontro com um dos Cavaleiros Negros – nesse ponto eles não sabem que se tratam dos Espectros do Anel – no meio da estrada, quando os três se abrigam abaixo das raízes de uma árvore quando são farejados pelo vilão. Esta cena também foi brilhantemente adaptada na animação de 1978.

Em seguida, eles tem um primeiro contato com os elfos na floresta, e um deles (Gildor) traça diálogo com Frodo enquanto Sam mal acredita em seus próprios olhos. Gildor os ajuda com conselhos e fica consternado com a notícia do atraso de Gandalf. Há uma cena na versão extendida que homenageia esse encontro com os elfos: Frodo e Sam veem, de relance, uma fila deles caminhando pela floresta, na jornada para deixar a Terra-Média.

No livro, não sabemos o que houve com o mago até o reencontro com ele em Valfenda, enquanto que no filme há a cena em que Gandalf vai pedir conselho de Saruman e este revela sua traição. A cena é importante também por explicar o que é a palantir, uma das pedras-videntes que tem importância crucial mais à frente na história.

Também no livro há extensa descrição sobre como os viajantes passam seus dias. O que fazem de manhã, como é a estrada, quando param para comer ou para dormir, até o final do dia. É claro, a ameaça dos Cavaleiros pairando sobre eles a cada momento.

Se no filme o velho Magote aparece apenas de relance – na cena do encontro com Merry e Pippin – já no livro o fazendeiro acaba os acolhendo e lhes dando abrigo e comida. É também ele quem comenta aos viajantes sobre um estranho vulto negro que apareceu no Condado perguntando de Bolseiros. Merry os encontra logo depois desse episódio e os ajuda a pegar a balsa para seguir viagem. Cena que no filme acaba ficando bem mais emocionante, com eles tentando pegar a balsa com os Cavaleiros em seu encalço.

No capítulo 5 Frodo revela a seus amigos o motivo de precisar sair do Condado, ao passo que Merry revela já saber um pouco da história, uma vez que havia lido, escondido, parte do diário de Bilbo. Mesmo sabendo dos perigos à frente, é nesse ponto que os dois decidem juntar-se à comitiva.

Já nos capítulos seguintes é quando finalmente aparece o famoso Tom Bombadil, primeiro grande ponto de discórdia entre os fãs, que queriam vê-lo na telona. Contudo, a decisão de Jackson de removê-lo por completo da história é compreensível, ainda mais se pararmos para pensar que o mesmo foi feito na animação de 78. Apesar de interessante, o personagem pouco acrescenta à história e sequer volta a aparecer ao longo da história.

Bombadil é descrito como o “mestre do bosque, da água de colina”. Ele não é dono dessas coisas e elas não pertencem a ele, mas a floresta o obedece e respeita. O primeiro encontro com os hobbits se dá quando estes se encontram em apuros na floresta velha, uma vez que alguns troncos de árvore tentam prendê-los. Há uma homenagem a essa cena na versão estendida de As Duas Torres, da qual eu falo na parte 2 desta série de posts. De qualquer modo, Tom os salva e os acolhe em sua casa.

Mais adiante, os viajantes são atraídos por uma estranha neblina e acabam capturados por “cousas tumulares”. Tom os salva uma vez mais e é nesse ponto que eles conseguem suas espadas, diferente do filme, na qual é Passolargo quem os presenteia. Ele então os acompanha até os limites do Condado.


9. Na Estalagem do Pônei Empinado
10. Passolargo

Os hobbits então chegam a Bri e o diálogo travado com o guarda do portão se dá de forma praticamente idêntica. Também a estalagem está movimentada e a primeira aparição de Passolargo no filme faz jus à descrição dada pelo livro.

O súbito desaparecimento de Frodo se dá de forma ligeiramente diferente, mas basicamente acaba sendo fruto de um tropeço, aliado com o Anel querendo lhe pregar uma peça. Aqui há um ponto que merece destaque por ser outra das grandes sacadas de Jackson: sempre que Frodo usa o anel nos filmes, ele vê o grande Olho de Sauron, o que não acontece nos livros.

De qualquer forma, Passolargo se revela como um aliado para ajudá-los a chegar em Valfenda, mesmo com as desconfianças de Sam. E, apesar de nos livros não haver menção clara aos Cavaleiros atacando camas vazias, eles não tardam a descobrir que seus perseguidores já estão em Bri e um ataque deles acaba fazendo fugir seus pôneis, apesar deles conseguirem permanecer incógnitos.

Contudo, eles precisam de pelo menos um pônei para carregar seus mantimentos se quiserem seguir viagem. Compram, então, um pônei meio acabado de um velho rabugento, mas o animal parece se revigorar a cada dia que passa junto deles. É o pônei chamado Bill, mencionado no filme apenas quando eles o deixam ir antes de entrar nas minas de Moria.

11. Um Punhal no Escuro
12. Fuga para o Vau

Saindo de Bri e tendo Passolargo como guia, eles ainda passam pelos Pântanos dos Mosquitos (mostrados de relance na versão estendida), até finalmente chegarem ao Topo-do-Vento. Lá ficam um tempo e, apesar de não haver, no livro, a cena em que os dois hobbits tolos acendem fogo, isso não é necessário para atrair os Cavaleiros Negros. Tal como no filme, Frodo não consegue resistir à tentação de por o anel no dedo para tentar esconder-se deles, o que não produz efeito algum e ele acaba apunhalado. A cena do Rei Bruxo tentando pegar o anel apenas com sua força de vontade, contudo, é exclusiva do filme e deixa transparecer que os espectros possuem poderes além da imaginação.

Já a cena de Saruman falando com Sauron através da palantir e derrubando árvores para construir seu exército é exclusiva dos filmes, sendo que fica apenas subentendida nos livros, uma vez que não há descrições do ponto de vista dos vilões, apenas quando eles se encontram com seus antagonistas. Contudo, elas são importantes para contextualizar o espectador dos acontecimentos vindouros, como a batalha com os Ents e a descoberta da palantir.

Os viajantes deixam o Topo-do-Vento com Frodo ferido e acabam passando pelos Trolls petrificados de O Hobbit. No filme, eles podem ser vistos ao fundo quando param para descansar, mas é preciso ficar atento, enquanto que na versão estendida Sam comenta mais explicitamente: Veja, Frodo, são os Trolls do Sr. Bilbo.

A viagem prossegue mas, diferentemente do filme, não é Arwen quem salva Frodo, mas sim o elfo Glorfindel. Aliás, todo o arco envolvendo o romance entre Aragorn e Arwen é bastante abreviado nos livros. Mais detalhes sobre isso nas outras partes dessa série de posts.

Apesar da ajuda de Glorfindel, Frodo cavalga sozinho para fugir dos cavaleiros. E sozinho os encara após atravessar o rio, mas fraco como está, desfalece no momento em que o rio transborda e carrega os cavaleiros para longe.

LIVRO II

1. Muitos Encontros
2. O Conselho de Elrond

Evidentemente, Frodo desperta em Valfenda e temos todo um capítulo descrevendo o lar dos elfos e seus personagens, além de várias histórias e esclarecimentos.Também, há o reencontro entre Frodo e Bilbo, no qual este tenta rapidamente tomar o anel, mas se arrepende.

O Conselho de Elrond no livro se dá, obviamente, de forma muito mais extensa. É aqui que Gandalf conta a história de seu cativeiro e da traição de Saruman, o antigo líder do Conselho. Elrond conta a história de Sauron, dos anéis de poder e dos Dias Antigos, e Glóin conta a parte que lhe cabe sobre os anéis dos anões. Boromir traz novas de Gondor e de como seus exércitos tem contido os ataques de Orques, enquanto Legolas fala sobre a fuga de Gollum, pois desde o encontro com Gandalf e Aragorn, ele estivera sob vigilância dos elfos.

Também Gandalf se recorda do encontro com Radagast anos atrás, cujas informações levaram a um confronto anterior com Sauron, no qual ele e Saruman o expulsaram de Dol Guldur, fatos mostrados nas adaptações de O Hobbit para o cinema. Ele também dá mais detalhes sobre suas investigações acerca do anel e das informações obtidas por Gollum.

Após o extenso conto do Um Anel e de suas adjacências, começa o debate sobre o que fazer com ele. Chegam a pensar em livrar-se do objeto, neste caso cogitando até mesmo entregá-lo a Tom Bombadil, mas Gandalf aconselha contra, pois sabe que seria altamente provável que Tom o perdesse, além de apenas adiar o inevitável. Jogá-lo no Oceano também não seria uma boa ideia, pois eventualmente o anel daria algum jeito de retornar a seu mestre.

Tal como no filme, Boromir dá a ideia de usá-lo contra o Inimigo, mas esta é prontamente rechaçada por Elrond e Gandalf. Na versão estendida, a cena é ampliada, com Boromir efetivamente chegando a tentar tomar o Anel, mas impedido por Gandalf, que chega a usar a língua negra de Mordor para tanto. Resta, então, a opção de destrui-lo, muito embora só haja uma maneira, e para os Elfos isso pode se tornar mortal, visto que o Um está atado aos Três. Mas é um risco que eles se dispõem a correr.

Bilbo então se voluntaria para a tarefa, mas Gandalf o obriga a reconhecer que não teria forças para fazê-lo. É então que Frodo se oferece, dizendo as mesmas palavras que se vê no filme: Eu levarei o anel… embora não conheça o caminho.

E tal como no filme, Sam pula de seu esconderijo oferecendo-se para ajudá-lo. Mas as semelhanças param por aí. Os companheiros de Frodo não são decididos durante o Conselho, mas nos dias seguintes. Eles ainda ficariam por 2 meses na casa de Elrond.


3. O Anel vai para o Sul

Como a própria ideia da demanda era manter a furtividade, já que Sauron jamais esperaria que alguém levasse o Anel até Mordor, Elrond determina que a Sociedade deve ser formada por um grupo pequeno, não um exército. Serão em número de nove, em contraponto aos nove Espectros do Anel. Os representantes das três raças – Aragorn, Legolas e Gimli, é claro. Boromir se junta à comitiva pois sua estrada é a mesma: ele deve ir a Gondor responder ao chamado da guerra. E é claro, Merry e Pippin imploram para ir junto a seus amigos hobbits.

Diferentemente de como acontece nos filmes, em que a espada partida Elendil só é entregue a Aragorn no terceiro filme, aqui ele a recebe de Elrod, reforjada, e com o nome de Andúril, Chama do Oeste. Frodo também ganha Ferroada e o colete de mithril de Bilbo. Elrond faz seu discurso final e parte dele é mostrado na versão estendida. Há uma cena engraçada na qual Gandalf afirma que a Comitiva aguarda o Portador-do-Anel e Frodo vai na frente. Porém, não sabendo o caminho, ele cochicha para Gandalf perguntando se vai para direita ou esquerda.

A Comitiva então parte e aqui cabe um adendo para falar novamente do cuidado nos detalhes que Jackson tem e não é à toa que ganhara tantos Oscars. A jornada da Comitiva mostrada nos filmes, apesar de, evidentemente, ser muito abreviada em relação aos livros, mostra uma fotografia magnífica, com paisagens diferenciadas e mostrando a passagem de tempo de maneira inteligente. Sem contar, é claro, a fantástica trilha sonora que a acompanha.

Também é importante destacar que os filmes mostram algo que sequer é mencionado nos livros de relance: o “treinamento” dos hobbits na arte das espadas, sempre que a Comitiva tem alguma oportunidade de parar. Algo que faz total sentido, visto que eles não são versados na arte da batalha, mas acabam tendo de se defender, como sabemos, em inúmeras ocasiões.

Tal como nos filmes, eles são obrigados a tomar a estrada das montanhas gélidas, por conta dos espiões alados do Inimigo. Contudo, acabam sendo detidos por uma nevasca intensa. Aragorn acha estranho tamanha tempestade enquanto eles ainda estão muito embaixo na escalada, e enquanto que nos livros eles apenas conjecturam que isso possa ser uma artimanha do Inimigo, nos filmes fica bem claro que a tempestade está sendo enviada por ninguém menos que Saruman. De qualquer forma, não há outra escolha senão tentar outro caminho.


4. Uma Jornada no Escuro
5. A Ponte de Khazad-dûm

A Comitiva é obrigada a voltar, mas o caminho até os portões de Moria não é tão tranquilo quanto nos filmes e eles sofrem um ataque de Orques. Diante dos portões de Moria há algumas diferenças sutis, como: é Boromir quem joga uma pedra na água e não Merry e Pippin. Também, Gandalf decifra o enigma da porta sozinho, ao invés de Frodo. O confronto com os tentáculos, no entanto, se dá de forma praticamente idêntica, obrigando-os a avançar escuridão adentro.

Diferentemente do filme, Gimli não ficou insistindo o tempo todo para que a Comitiva tomasse o caminho de Moria, pois já era fato bem conhecido que as minas haviam sido tomadas por Orques e que eles muito provavelmente ainda estavam lá. Também Gandalf não sabia da possibilidade do encontro com o Balrog.

Não obstante, eles seguem em frente e em certo ponto, Gandalf explica que a riqueza dos anões não estava em ouro ou jóias, mas em mithril e comenta com os colegas sobre o colete de Bilbo. Frodo nada diz e esta cena é reproduzida na versão estendida.

Eles avançam até pararem no ponto de decisão, com as três portas, na qual Gandalf encontra dificuldade de se recordar. É nesse ponto, e não no túmulo de Balin, que Pippin vê um enorme buraco no chão e, querendo saber a profundidade, propositadamente atira uma pedra. E aqui Gandalf, furioso, fala para ele se jogar da próxima vez e poupar-lhes de sua estupidez.

Também aqui, nos filmes, é quando Frodo percebe que está sendo seguido por Gollum, o que nos livros só acontece bem mais adiante. Também fico na dúvida se isso não foi um vacilo do diretor, pois apesar da criatura estar seguindo o rastro da Sociedade desde Valfenda, como ele poderia ter entrado em Moria se a passagem estava bloqueada? Eles certamente teriam percebido. De qualquer maneira, aqui e traçado o diálogo entre Frodo e Gandalf que, conforme comentado anteriormente, nos livros ele ocorre no capítulo 2 do Livro I. Na versão estendida, vemos Gandalf contar a Frodo o verdadeiro nome de Gollum.

A decisão de tomar o caminho cujo ar fede menos é mais ou menos parecida, embora nos livros eles avancem para cima e não para baixo. Eles atravessam os grandes salões e finalmente chegam no túmulo de Balin. Lá, Gandalf encontra páginas deterioradas pelo tempo, escritas em runas antigas – e o livro traz em detalhes as imagens destas páginas – que conta a história do cerco de Balin. Detalhe: as runas inscritas no túmulo mostradas no filme são exatamente como as descritas no livro.

Encurralados na sala, eles são atacados pelos Orques e, tal como no filme, Frodo é atingido, embora de forma ligeiramente diferente. Aqui quem o atinge não é um troll, mas um chefe órquico, que arremete uma lança em sua direção. As explicações para ele ter sobrevivido, no livro, ficam para depois, já que imediatamente eles tem de fugir.

Todo o resto se dá mais ou menos da mesma forma. Vem o Balrog, eles tem de atravessar a ponte, Gandalf fica para trás, “You shall not pass” e tudo o mais. Gandalf cai e eles escapam para a luz.


6. Lothlórien
7. O Espelho de Galadriel
8. Adeus a Lórien

A Comitiva segue pela floresta e logo encontra Haldir, de forma bastante similar à mostrada no filme, muito embora a versão estendida traga um diálogo mais extenso entre os elfos antes de Haldir os conduzir até Lothlórien. A diferença é que nos livros eles trilham o caminho vendados, já que os elfos não confiam no anão e todos acabam sendo vendados em solidariedade a Gimli.

Mais uma vez, eles passariam vários dias descansando na terra dos elfos e é aqui que começa a florescer a amizade entre Legolas e Gimli. Após o primeiro encontro da Comitiva com Celebor e Galadriel, todos comentam sobre ter ouvido a voz dela em suas mentes, o que fica um pouco mais claro na versão estendida do que na versão original, que dá mais destaque a Boromir e o desejo pelo Anel que cresce em sua mente.

Em seguida eles contemplam a elegia a Gandalf e descansam, recuperando suas forças. Novamente, no livro, há vasta descrição do passar dos dias e o episódio com o espelho de Galadriel é ligeiramente diferente. Frodo está com Sam quando ela lhe convida a olhar nas águas, e Sam é quem primeiro o olha e tem um vislumbre do que pode acontecer no Condado. No filme, Jackson já sabia que não iria filmar o capítulo “O Expurgo do Condado” (veja a terceira e última parte dessa série) e decidiu aproveitar a cena para fazer uma homenagem ao mesmo.

Frodo, por outro lado, tem inúmeras visões sobre acontecimentos vindouros e, assim como no filme, a visão termina com o Olho lhe fitando e o anel pesando em seu pescoço, e as águas exalando vapores. Então, após breve diálogo, Frodo lhe oferece o anel e ela ligeiramente se transforma, mostrando a imagem de como seria se ela o aceitasse, mas acaba por recusá-lo.

Na despedida de Lórien, não apenas Frodo recebe um a Luz de Eärendil, mas todos eles também recebem presentes, que podem ser vistos na versão estendida. Legolas recebe um novo arco, enquanto Boromir ganha um cinto de ouro. A Merry e Pippin, cintos de prata, enquanto que no filme eles são acompanhados de punhais. Sam, sendo jardineiro, ganha sementes élficas que lhe ajudarão no futuo, e também a corda que mais tarde usa para prender Gollum, enquanto que Aragorn ganha uma bainha encantada para guardar Andúril. Já no filme, nenhum presente lhe é dado, já que ele já possui a dávida de Arwen. Ela então pergunta o que Gimli poderia querer e ele mui humildemente lhe pede um fio de seu cabelo, que é concedido.


9. O Grande Rio
10. O Rompimento da Sociedade

O Capítulo 9 novamente traz longas descrições do passar dos dias, quando no filme, é mais uma oportunidade para a fotografia brilhar. Em certo ponto, eles comentam que Gollum continua os seguindo, escondido em um tronco flutuante, o que é mostrado na versão estendida, que também traz um diálogo tenso entre Aragorn e Boromir. Enquanto que este último quer tomar a estrada para Minis Tirith, o herdeiro de Isildur sabe do risco inerente a esta decisão. Frodo houve o diálogo acalorado, que parece só pesar ainda mais na sua decisão de deixar a Comitiva.

Eles passam pelos Argonath, as gigantescas estátuas dedicadas aos antigos reis, e então fazem uma pausa antes das cataratas. No livro, é ponto de decisão: seguir para Mordor, ir para Minas Tirith, ou separar a Sociedade. O último capítulo é dedicado a extenso debate sobre a questão, e Frodo pede um tempo para pensar. É quando se separa dos demais e Boromir tenta tomar o Anel.

Aqui há outra diferença crucial, pois o ataque de Orques e a partida de Frodo se dão em momentos diferentes. O ataque dos inimigos e a morte de Boromir só aconteceria no primeiro capítulo do próximo livro. Aqui, no entanto, a comitiva se separa para procurar Frodo enquanto ele, invisível, aproveita para voltar aos barcos. Para sua sorte, Sam percebe a ideia do patrão e volta para encontrá-lo, juntando-se a ele no último instante.

Contudo, a decisão de Jackson de juntar estes dois capítulos em uma única sequência final novamente se mostra acertada. Além de economizar tempo de filmagem, acaba trazendo uma surpresa no final do primeiro filme mesmo para quem já conhecia o livro, pois estes poderiam esperar a morte de Boromir apenas na sequência.

Há apenas algumas diferenças sutis entre a versão original e a estendida com relação à batalha final, que naturalmente acabam prolongando-a, mas obviamente, o resultado é o mesmo: Boromir morre, Merry e Pippin são capturados e Frodo e Sam seguem sozinhos para Mordor. A Aragorn, Legolas e Gimli, resta apenas tentar resgatar os amigos e esperar que Frodo e Sam consigam concluir a demanda.

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