superheroes-watching-movie-free-desktop-wallpaper-1920x1080 Vivemos tempos estranhos. Lembro que ser nerd na minha infância era algo quase vergonhoso. Eu me encontrava com meus amigos na hora do recreio para falar de gibis e jogos de Mega Drive e sempre tinha alguém tirando sarro da gente. Hoje em dia isso praticamente deixou de existir, o que é legal. Certo?

Década de 90. Não existia internet, a única fonte de informação era a revista “Herói”, a Editora Abril criava sua própria cronologia da Marvel e DC e a gente vivia em sebos correndo atrás de completar a coleção. E mesmo com uma cronologia tão zoada quanto a dos X-Men, ainda era possível de pegar o bonde andando e entender o fio da meada.

Corta para os dias atuais. Eu entro numa livraria e pipocam coisas de super-heróis. Não só quadrinhos. Pôsteres, canecas, luminárias, camisetas, brinquedos, livros, games, quebra-cabeças e por aí vai. Esses dias eu estava almoçando num restaurante e ouvi dois caras conversando. Um estava indicando para o outro que jogasse Assassin’s Creed, ao que o outro um pouco depois comentou o quão era bom o novo Tomb Raider. Antigamente, você só ouviria conversas sobre os times que ganharam e perderam no brasileirão.

Esses dias fui num churrasco e, apesar de não conhecer a maioria das pessoas, notei que boa parte delas estava conversando sobre filmes, séries e até quadrinhos e games. Teve um cara que estava meio deslocado do assunto, pois não entendia bulhufas dessas coisas. Ele queria falar de carros e de futebol. Me senti mal e, mesmo sem entender muita coisa de carro, comecei a conversar com o fulano. Meus vastos conhecimentos automobilísticos deviam ter rendido uns 20 minutos de conversa, no máximo.

Não é curiosa essa inversão de papéis? Por um lado eu acho muito legal. Essas coisas que eu e meus amigos gostávamos, agora de repente está todo mundo gostando. Antes, nós éramos minoria. Agora, dominamos o mundo. Que bacana. Só que de outro lado, não consigo deixar de lado a sensação de que ainda tem algo errado. Para entender bem o quê, vamos começar do começo.

Primeiramente, é preciso entender o porquê disso ter acontecido. E eu só consigo pensar em 2 grandes causas. Se vocês se lembrarem de mais alguma, por favor me ajudem. A primeira delas é, obviamente, a explosão de filmes de super-heróis e afins que ocorreu na década passada e ainda reverbera. Já falei disso aqui antes e não vou me estender muito, mas Hollywood viu o quão lucrativo isso pode ser e os olhos brilharam no melhor estilo Tio Patinhas. Assim, deu-se a enxurrada de filmes que vemos todos os anos e que alguns críticos já apontam como um saturamento. Fodam-se os críticos, eu quero mais.

Segundamente, é natural que a galera que adorava comics, mangás, games e desenhos animados na década de 80/90 envelheceu. E é esse público (nós) que agora compra seus comics, mangás, games e afins com o próprio salário e não mais com a mesada dos pais. Nós viramos o público consumidor e o mercado sabe disso. Logo, eles farão produtos voltados a nós. Daí o porquê essa onda de refilmagens, remakes e continuações de filmes dos anos 80/90 – além, é claro, da falta de criatividade de Hollywood em bolar novas franquias que se sustentem.

Com isso, consegue-se uma coisa que os quadrinhos – principalmente os independentes – penam em tentar fazer há anos: divulgar-se para um público fora do nicho. Furar a bolha. Você faz um filme de super-heróis sabendo que os fãs vão adorar. Mas ao mesmo tempo tem que fazer algo que agrade o público geral. E assim você consegue esse efeito dominó, já que o paizão vai levar os filhos para o cinema e depois comprar brinquedos dos Vingadores, formando já o público da nova geração.

E é esse lado, como eu disse, que acho legal. Estamos finalmente mostrando para as pessoas como eram legais as coisas que gostamos e “dando o troco” naquele gordo maldito que nos fazia bullying (odeio essa palavra) tirava sarro da nossa cara na hora do recreio. Mas tem gente que exagera. E aí que me incomoda um pouco.

Vou usar de exemplo as séries, que são um tema universal hoje em dia. Eu comecei a ver Breaking Bad na terceira temporada, quando ela mal era conhecida. Imediatamente falava pra todo mundo assistir. E quando foi se aproximando do final, virou uma hype quase insuportável. Me chame de hipster se quiser (eu vou discordar), mas tem gente que quando gosta de uma coisa fica fazendo tanto alarde que você acaba criando asco daquela coisa, mesmo ela sendo tão legal.

Pega Game of Thrones por exemplo. Eu acho uma série “ok”. Eu assistiria ela de boa, sem grandes expectativas (até porque, depois de Breaking Bad, nenhuma outra série conseguiu me deixar ansioso para o próximo episódio). Mas CHOVEM posts sobre a série, principalmente antes e durante uma nova temporada. Criam-se memes, gifs e sei lá mais o quê. É tão irritante que uma série que eu acharia legal, não aguento nem mais ouvir falar.

Star Wars. Eu acho legal, mas nunca entendi essa febre em torno da franquia. Passa um trailer do novo filme, a galera vê o Darth Vader por meio segundo e já mela as cuecas. Eu só tenho vontade de dizer “Relaxa aí, galera. É só um filme.”

E o fenômeno mais recente, Stranger Things. Que série fantástica. Simples, bem executada, recheada de boas ideias e referências. É o tipo de produto de acordo com o que eu falava há 4 parágrafos atrás: feita para nós. Por sorte, eu assisti ela logo que lançou, quando ainda nem todo mundo sabia de sua existência. Porque agora TODO DIA tem alguma coisa sobre ela nas redes sociais. Memes, gifs, desenhos bonitinhos feitos por fãs. Textos dizendo porque você deveria ver a série, textos dizendo que a série não é tudo isso. BOMBARDEIAM a internet com o assunto do momento até não poder mais. É chato. É irritante. E aí acontece o que eu disse: você pega asco de uma coisa que era legal. E acaba ocorrendo o efeito inverso: gente que não assistiu à série vai acabar nunca assistindo justamente por conta disso.

E aí que entra o ponto que eu queria chegar. Eu vejo todo um esforço da galera de fazer memes e essas coisas todas, falando bem ou mal de coisas que nem precisam de uma divulgação, ao passo que os autores independentes penam TODOS OS DIAS para encontrar forma de se divulgar. E não estou falando só de quadrinho, mas de música, cinema, teatro, etc. E isso não se limita apenas aos produtores de conteúdo da internet . Eu sei que esses caras precisam falar dos assuntos do momento para se manter no ar (embora não custava NADA eles falarem também da produção local entre um vídeo/texto e outro). Mas também dessa galera comum que adora compartilhar coisas em Facebook e afins.

amigos

Até porque, convenhamos, você pode até comprar um quadrinho do Batman e do Homem-Aranha pro seu filho no mês de lançamento do filme no cinema, mas hoje em dia eu acho extremamente difícil um leitor de primeira viagem se manter acompanhando uma cronologia tão zoneada quanto da Marvel e da DC. Há 200 versões diferentes de cada herói, vindas realidades alternativas, universos paralelos ou de um possível futuro distante. Não vejo alguém fazendo o que eu e meus amigos fazíamos, de começar a comprar um gibi mensalmente e depois ir catando as edições passadas em sebos (até porque a distribuição hoje em dia no Brasil é uma MERDA e as edições antigas são cada vez mais escassas). Se alguém souber de algum caso parecido, por favor compartilhe nos comentários, fico curioso para saber se isso é possível, ainda mais tendo parado com Marvel e DC há mais de uma década.

Por isso mesmo, ao invés de se enfiar num universo cheio de crises, reboots e retcons, por quê não ir atrás do quadrinho nacional? Tem muita coisa bacana de qualidade e com certeza você não vai precisar fazer um curso na NASA para entender as histórias. É claro, não são coisas mutuamente excludentes. Mas eu gostaria muito de ver toda essa febre em torno de algo produzido nacionalmente e que não fosse feito pelo Mauricio de Souza.

Pegue o Pokemon Go, por exemplo, a febre do momento. Tem um monte de gente falando mal e xingando quem está jogando. Cara, eu não gosto de pokemon, nunca fui fã de animes, mangás e afins (com exceção de Cavaleiros do Zodíaco e dos seriados tipo Jaspion e Jiraya), mas qual é o problema da galera jogar, mano? Na minha época era o iô-iô da Coca-Cola, ou o Tazzo, ou os brinquedos do Quinder Ovo. Essas febres vem e vão, deixa a galera se divertir. Você com certeza continua seguindo seu time de futebol, esteja ele na Série A ou B e faz vista grossa para o monte de corrupção que existe no meio. Porque gosta dessa merda. Então deixa a galera se divertir com o que gosta.

Acho que esse último parágrafo não teve nada a ver com o assunto em si, mas eu precisava dizer de qualquer forma. Acho que a moral da história, se é que existe alguma é… continuem curtindo as coisas que vocês adoram, cuidado com os exageros para não deixar essa coisa chata e não se esqueçam de apoiar o quadrinho nacional! =D

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