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Uns tempos atrás eu postei no Facebook algo assim: “Herói/heroína descobre ser detentor(a) de poderes/habilidades fantásticas e precisa aprender a dominá-los para salvar a humanidade num período de opressão. Soa familiar? Quantos filmes de hollywood utilizaram essa formulinha manjada nos últimos anos?”. Algumas pessoas comentaram afirmando ser parte da Jornada do Herói. Mas será mesmo?

Não foi bem o que eu quis dizer na época. Pode ser que tenha elementos coincidentes com a Jornada do Herói de Joseph Campbell, mas minha crítica foi, na verdade, com relação a essa “fórmula pronta” que Hollywood adora utilizar. Parte disso, acredito, deve-se ao enorme sucesso aos filmes de heróis desde o primeiro X-Men de Bryan Singer, agora já nos longínquos anos 2000, ao que sucedeu o primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi e assim por diante.

Era muito raro ver filmes de super-heróis fazerem esse tipo de sucesso até então. Quando isso aconteceu, parece que houve um estalo na cabeça do Sr. Hollywood: “Ei! Isso dá dinheiro de verdade! Vamos fazer mais filmes como esse, baseados em HQs ou em livros, com protagonistas jovens descobrindo suas habilidades, vamos encher de efeitos especiais e o sucesso é garantido!”.

Só que não. Veja, “A Jornada do Herói”, ou “Monomito”, é dividido em 12 estágios. Copiei e colei da wikipedia por pura preguiça mesmo:

  1. Mundo Comum – O mundo normal do herói antes da história começar.
  2. O Chamado da Aventura – Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura.
  3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado – O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.
  4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural – O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura.
  5. Cruzamento do Primeiro Portal – O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.
  6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia – O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.
  7. Aproximação – O herói tem êxitos durante as provações
  8. Provação difícil ou traumática – A maior crise da aventura, de vida ou morte.
  9. Recompensa – O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).
  10. O Caminho de Volta – O herói deve voltar para o mundo comum.
  11. Ressurreição do Herói – Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.
  12. Regresso com o Elixir – O herói volta para casa com o “elixir”, e o usa para ajudar todos no mundo comum.

Se é a primeira vez que você está ouvindo falar disso, com certeza já identificou vários filmes que utilizam essa jornada, sendo o exemplo mais clássico o primeiro Guerra nas Estrelas: Uma Nova Esperança. É publicamente conhecido que o próprio George Lucas admitiu ter utilizado estes elementos, baseado no livro de Campbell, O Poder do Mito.

Certo, mas então, todo filme de aventura precisa ter esses 12 passos? Não. E é aí que entra a minha crítica. Hollywood está tão obcecada em não mexer em sua “fórmula de sucesso” que há dezenas de filmes saindo todos os anos que são essencialmente a mesma coisa. Você pode conferir só vendo os trailers:

A Saga Convergente
Jogos Vorazes
O Destino de Júpiter
Ender´s Game: O Jogo do Exterminador
Eu sou o Número Quatro
Maze Runner: Correr ou Morrer
Aprendiz de Feiticeiro

E por aí vai. A fórmula é mesma, troca-se os poderes dos personagens, o cenário e o tipo de inimigo e voi là, tem-se um novo blockbuster. Ocorre que frequentemente esses filmes acabam não sendo o sucesso que os executivos estão esperando – veja por exemplo o Destino de Júpiter, recentemente indicado ao Framboesa de Ouro. Por que será? Será que é porque o público vai se cansando de assistir sempre a mesma coisa?

Quero dizer, não te culpo se você está estressado com o trabalho no final do dia e tudo o que quer é desligar o cérebro e assistir a um Transformers, Tartarugas Ninja ou Velozes e Furiosos, ou se você é só um adolescente que quer ver um monte de efeitos especiais e explosões na telona e está se lixando para a história.

É o que essa nova geração está pedindo e o que se pode fazer? A tecnologia atingiu níveis incríveis na área de CGI e é realmente impressionante. Mas não vamos nos enganar. Não é apenas maquiagem, efeitos e cenários que fazem um bom filme. E agora vou contar um segredo a você, pretenso roteirista de quadrinhos ou cinema: você não precisa usar a Jornada do Herói para criar uma boa história!

É isso mesmo que você leu. Vejo frequentemente estudantes de cinema obcecados com o manual do roteiro do Syd Field e toda aquela fórmula pronta de como escrever roteiro: “agora tem que vir o Plot Point 1”, “agora tem que vir o Plot Point 2” e assim por diante. Ficam tão concentrados na técnica que se esquecem do conteúdo, o que é muito mais importante.

Veja, se você tem uma boa ideia, quando você for desenvolvê-la, todas essas coisas irão aparecer naturalmente. Toda história tem começo, meio e fim, então você não precisa ficar obcecado em “onde colocar” os pontos de virada.

É claro, eventualmente você se fará algumas perguntas do tipo: “Será que o herói realmente precisa de um mentor?”. “Será que este acontecimento não veio cedo demais?”. “Será que esse final não poderia ficar melhor?”. Mas isso faz parte do processo. O que eu quero dizer é: não coloque a carroça na frente dos bois. A técnica está ali para ajudá-lo, como um guia, mas você não precisa seguir fielmente as regras. Escrever é uma arte e arte é justamente sobre quebrar as regras!

Voltando ao meu ponto, Hollywood está em crise, não é de hoje. Todos os anos vemos os mesmos filmes – para não falar nas refilmagens e reboots desnecessários, mas isso é outra história – e não estou falando apenas em filmes de ação/aventura. Preste atenção nos filmes de suspense, por exemplo e você também identificará elementos em comum em todos eles: família que se muda para uma casa onde tem algo de sobrenatural acontecendo, que já aconteceu com alguém antes e esse alguém, que miraculosamente sobreviveu, será o mentor de nossos protagonistas para vencer o mal. Ou não.

É claro que não há como mudar isso, então esse post é mais um desabafo de um velho cansado dos clichês e nostálgico com os clássicos de antigamente.

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