Quem me conhece sabe que eu já fui um vã ardoroso do herói aracnídeo. Sim, fui, pois depois de sucessivas reviravoltas do personagem que a Marvel insistia em fazer e não levavam a lugar algum (exceto ao desrespeito ao leitor), decidi parar. E parece que esse desrespeito não se limita mais apenas aos quadrinhos, mas ao cinema também.
Algumas perguntas que não querem calar sobre o filme:
1) O filme é ruim?
Não, o filme não é ruim. Não chega a ser um baita filme de super-heróis, mas se eu dissesse que o filme é ruim, estaria mentindo.
2) O tal do polêmico reboot, foi mesmo necessário?
De forma alguma. Poderiam ter mudado os atores, Peter poderia ter começado a namorar Gwen, poderia começar uma investigação sobre seus pais, poderia ter enfrentado o Lagarto (sendo que Curt Connors já havia aparecido na franquia anterior e nem precisaria de apresentação), tudo isso, sem ter que recontar pela zilionésima vez a história que todo mundo já sabe.
3) O filme é melhor que o do Sam Raimi?
Bem, as comparações são inevitáveis. Mas não dá pra dizer que um é melhor do que outro. Os filmes de Sam Raimi também têm seus defeitos. Todo mundo reclama mais do último (que eu não acho que seja ruim, também), mas convenhamos: que ideia era aquela do Duende Verde querer que o Aranha fosse seu aliado? Que motivações que ele tinha? E o Dr. Octopus? O experimento dá errado e ele decide refazê-lo, maior ainda, para detonar a cidade inteira? Cadê a lógica disso? E o terceiro falha em várias outras coisas, sendo que pra mim, o principal defeito foi ter tentado colocar Venom no filme, o que atropelou as coisas, mas tendo em vista o que já havia sido feito nos outros, estava ainda bem dentro do que se podia esperar.
E esse novo filme faz algumas coisas que Sam Raimi deveria ter feito: colocar Gwen como a namorada inicial de Peter, mostrar que Flash Thompson não é inteiramente o bacaca que todo mundo pensa e fazer uso dos famosos lançadores de teia. Aí sim, poderíamos ter a famosa cena da ponte onde Gwen morre (coisa que ainda pode acontecer num segundo ou terceiro filme da nova franquia).
Bem, eu já falei sobre como a franquia do Sam poderia ter continuado aqui. Sobre esta nova, apesar destes acertos, ela não traz nada de novo. Como já disse, o reboot foi desnecessário. A história de Peter Parker em busca do mistério sobre seus pais é mais interessante do que a história do Aranha. Agora novamente, as motivações de Connors como o Lagarto são tão superficiais que você não consegue comprar a ideia de que ele é o vilão. E esse é só um dos problemas desse novo filme.
O que é aquele final com os operadores movimentando as gruas de cima dos prédios pra “deixar o caminho livre” pro Homem-Aranha? Ué, ele não consegue se balançar nos prédios mais? Ridículo, cena forçada só pra mostrar o cidadão comum tentando ajudar o herói.
E já que colocaram o Capitão Stacy na trama, poderiam ter postergado sua morte, oras. Apesar de que seria muito difícil ver um novo Dr. Octopus nessa franquia, destruindo uma chaminé cujos destroços cairiam em cima do bom e velho Capitão.
Conclusão: filme bom, que apresenta alguma diversão, mas completamente desnecessário. Deveriam, definitivamente, ter continuado a franquia anterior, sendo que ainda é tão recente e com tanta coisa a explorar.
Sobre o jogo, tiveram a decisão acertada de não fazer uma adaptação da história que se vê nas telas, mas uma continuação. E isso é a melhor coisa que se tem no jogo: a história, que nos permite ver novas origens de personagens antigos, como Rino, Iguana, Ratus, Escorpião, Gata Negra, Alistair Smythe e seus Esmaga-Aranhas. E tem até alguns novos, como o “Homem-Piranha” que você enfrenta já perto do final.
Outra coisa interessante é a possibilidade de recolher páginas de hqs. Depois que você recolhe uma certa quantidade, consegue desbloquear hqs clássicas para leitura. Mas não se anime muito… se você é mais um fã fanático como outrora eu fui, provavelmente já possui todas, pois se trata de histórias clássicas com as primeiras aparições de Rino, Lagarto, Escorpião e todos os outros que você enfrenta no jogo.
Agora vamos aos fatos: o jogo é tudo isso que andam falando, que rivaliza com Batman entre os melhores jogos de heróis? Nem de longe. Pra mim, o melhor jogo do Aranha continua sendo Shattered Dimensions. Por vários motivos, então vamos por partes.
Câmera. Certo, no geral, a crítica tem elogiado o fato da câmera ter ficado mais perto do Aranha, o que de fato é uma coisa legal… em alguns momentos, como em algumas cenas de ação, isso dá uma “emoção extra” na partida. Mas isso tem um custo, que é o de ter menor percepção do ambiente ao seu redor. E num jogo mundo aberto, isso não é legal.
Outro ponto é que em alguns momentos a câmera se movimenta sozinha, para chamar-lhe a atenção para alguma coisa ou apenas para centrar a tela quando você fica empoleirado, e isso atrapalha MUITO a jogabilidade. Também quando você usa o movimento direto para ir para uma parede, a câmera fica “presa” no ângulo de visão e não muda até que você se movimente. Ou quando você usa o “stealth attack” para pegar criminosos desprevenidos e enrolá-los em casulos de teia no teto (que, diga-se de passagem, não possui a variedade de estilos como o Homem-Aranha Noir de Shattered Dimensions possuía). Dependendo do cenário fica até confuso saber aonde você está, lembrando um pouco a câmera do Alien no game “Aliens vs Predador”.
E por falar em referências a outros jogos, é bastante claro que eles beberam da fonte de Prototype para desenvolver algumas coisas. Por exemplo, a contagem crescente da população infectada, o movimento de correr sobre as paredes dos prédios e alguns desafios secundários, lembram muito esse outro game do Xbox.
Movimentação. Estragaram os comandos dos jogos anteriores. Sério. Em Shattered, era tudo muito simples e intuitivo. Em Edge of Time, isso diminuiu um pouco, mas em Amazing Spider-Man, isso foi pro espaço. A começar pelo “web-swing”. Você agora tem que segurar o botão ao invés de apertá-lo a bel prazer e isso tira um pouco do controle que você tinha. Por exemplo, antes, se você ia numa direção e queria voltar, era só continuar segurando o botão que o Aranha não largava a teia e voltava por onde veio. Agora não, ele larga a teia sozinho e você é obrigado a dar a volta. Só que com esses movimentos de câmera esquisitos que eu comentei, isso às vezes não é tão simples assim e você tem que dar algumas voltas para chegar exatamente aonde quer.
Algo tão simples como o pulo, eles conseguiram complicar. Você só consegue pular alto em Manhattan. Em ambiente fechados, isso não acontece. Não entendo o porquê dessa limitação, sendo que um pulo mais alto seria de grande valia em alguns momentos. E você não consegue dar aquele “salto duplo” mais enquanto se balança em teias, o que ajudava bastante para corrigir as manobras em alguns casos.
Também, o “web-zip” foi substituído por um movimento em que primeiro você segura o “RB” para ter a visão em primeira pessoa e escolher algumas possibilidades de lugares aonde você pode ir. Ao soltar, o Aranha vai até esse lugar. Ou você simplesmente aperta RB e vai, mas aí, nem sempre ele vai aonde você pensa que ele vai.
Por exemplo, ao balançar-se pela cidade, você pode estar passando sobre uma página de HQ, o que faz surgir um alerta na tela para você apertar RB e ir direto pra ela, por mais que você não tenha visto. Só que se você errar o tempo, nem que seja numa fração de segundo, vai parar em outro lugar. Isso irrita de um jeito que você não tem noção.
Também o sentido de aranha, bastante útil em Shattered para ver a posição de inimigos e outras coisas, foi abolido aqui. Substituído apenas pelo botão “Dodge” (Y), com o intuito de imitar a movimentação do Batman. E vou te dizer, isso é a coisa que mais me irritou nesse jogo. Vocês provaelmente lerão em outras resenhas que o fato de imitar a movimentação de combate dos jogos do Batman foi um acerto. NÃO FOI. O HOMEM-ARANHA NÃO É O BATMAN, ELE NÃO PRECISA SE MOVIMENTAR ASSIM!!!!
Quando eu vi isso, bufei de raiva. Uma das minhas maiores reclamações nos jogos do Batman era justamente essa movimentação de combate, pois às vezes você aperta a porra do botão Y e ele não responde a tempo. E isso se refletiu no novo jogo do Aranha. Não só nisso, mas também em seus golpes… enquanto ele não atinge e contagem certa de hits, ele fica dando soquinho, um por um, com uma lerdezzzzza que dá MUITA raiva. E diferente dos jogos do Batman, não há lá grande variedade de outros golpes que você pode usar nos combos.
Em Shattered era tudo muito fácil e intuitivo: segurava um botão e você entrava no modo defensivo, permitindo que o ágil Homem-Aranha se desviasse de socos, facas e até de balas. Aqui, se um inimigo está armado, você é obrigado a fugir! Absurdo!
E ai de você se não fugir a tempo, ou se não apertar o Y a tempo quando o sentido de aranha disparar. A barra de energia que tínhamos antes foi substituída pelo modo “Call of Duty” de medir se você vive ou morre. A tela vai ficando vermelha e você tem que fugir e ficar quieto para se recuperar. Nunca gostei desse modo nos jogos, mas aqui está ainda pior: basta meia dúzia de socos e você morre. Você é o Homem-Aranha, pelo amor de Deus! Isso não faz sentido nenhum!
Nos dois últimos jogos tínhamos o Aranha como ele é: ágil, forte. Você desferia os mais diversos golpes, você resistia a ferimentos. Agora temos um pseudo-herói que mal consegue brigar com capangas e que morre por qualquer coisinha.
Missões secundárias. Se tinha uma coisa que irritava nos jogos que adaptavam os filmes do Sam Raimi eram as missões secundárias, extremamente repetitivas, as quais você era obrigado a realizar até para prosseguir no jogo. Aqui até houve uma melhora nesse sentido, pois você não é OBRIGADO a realizar nenhuma missão secundária, mas é ALTAMENTE RECOMENDÁVEL, uma vez que elas são convertidas em pontos de XP que lhe permitem dar upgrades no Aranha. Apesar de que a maioria dos upgrades, verdade seja dita, não serve pra porcaria nenhuma. É só um ou outro golpe a mais e um pouco mais de resistência (mas não muito). E algumas missões secundárias são bem legais até, mas, de novo: repetitivas demais. Enche o saco.
Mas para não falarem que só meti o pau, tem uma coisa MUITO bacana nesse jogo, que não se via desde o saudoso Spiderman vs Kingpin, do Mega Drive: a possibilidade de tirar fotos! Você pode tanto tirar fotos à esmo do que bem entender quanto participar de missões secundárias cujo objetivo é realmente tirar fotos jornalísticas para montar matérias de jornal. Algumas são meio complicadinhas de você entender O QUÊ precisa ser fotografado e COMO focalizar, mas ainda assim, é bem divertido.
Enfim, de qualquer forma, apesar da história valer a pena, minha opinião sobre esse jogo é igual à do filme: extremamente desnecessário. Se esse é o seu primeiro jogo do Aranha, você provavelmente vai gostar de jogá-lo. Mas se comparado com versões anteriores, especialmente as duas últimas, você entende que este poderia ter sido BEM melhor.