A ideia desse post é fazer um contraponto à crítica do filme apresentada no Cinemaqui, que elogiou muito o filme.
Com todo respeito aos caras do Cinemaqui, ou ao próprio diretor do filme, mas este foi um dos piores filmes que já vi na minha vida. Não acho que dê nem pra chamar de filme.
Para explicar meu ponto de vista, vou utilizar uma frase de Marlon Brando no filme “Adaptação”. Nesse filme, Nicholas Cage é um roteirista em crise e está fazendo um curso com Brando, que explica a premissa básica de qualquer roteiro: é preciso haver conflito. Qualquer que seja a história, o gênero, é preciso ter algo que “puxe” a história. Algo que o personagem busque, alguma coisa que precise ser resolvida, um vilão que precise ser vencido. Isso é o conflito. E Cage pergunta, na classe, “Ok, mas e se eu quiser fazer uma história sem conflito?”. O personagem de Brando solta uma risadinha e responde “Bem, primeiro, você não terá história alguma para contar. E segundo, você irá matar a platéria de tédio”. Ou algo mais ou menos assim.
É exatamente o que temos em A Árvore da Vida. Não há um conflito, não há nada por ser resolvido, é só um emaranhado de imagens desconexas entre si. NÃO HÁ DIÁLOGOS!!! São pouquíssimos os diálogos do filme, há praticamente só expressões e manifestações de pensamento, o que é inadmissível para um filme de 2 horas e vinte minutos. Não dá. Acontece justamente isso: você mata a platéia de tédio. Eu mesmo não consegui ver o filme numa pegada só. Tive que ver metade e depois a outra metade e ainda assim, estava contando os minutos pro filme acabar de vez. Se demorasse mais um pouco eu acho que ia cortar os pulsos.
Sei o que alguns vão dizer. Que o “conflito” é a relação entre pai e filho. Mas não há drama nenhum ali. Digam o que disserem. Não há como ter drama se não tem HISTÓRIA. E não tem como você ter uma história só com imagens desconexas. Sem enredo. Sem narrativa.
Olha, é bastante óbvio que o diretor quis fazer uma apologia à vida, ou a Deus, ou à natureza, ou o que seja. Mas talvez um filme não fosse a maneira mais apropriada. Talvez uma poesia, ou uma série de quadros pintados, ou ópera, sei lá. Mas isso não é cinema.
Eu aposto que se fosse um diretor iniciante, estaria todo mundo caindo de pau em cima. Mas como Malick já tem a sua moral, aí os críticos já vêm com uma de “nossa, que obra de arte” sendo que nem eles mesmo entenderam o filme.
O que nos leva a outro ponto, que é a crise atual de Hollywood. Faz TEMPO que não vejo um filme REALMENTE BOM. De um lado, temos os filmes sem conteúdo algum, só com efeitos, uma historinha meia-boca pra você desligar o cérebro e tentar se divertir um pouco. Mas, sério, qual foi o último filme bom do gênero?
De outro, temos os metidos a intelectuais que querem fazer algo “diferente” e acabam fazendo umas belas porcarias. É só ver quem ganhou o Oscar nos últimos anos. “Onde os Fracos não têm vez”. Que porra foi aquela? “Os Infiltrados”. Tanto filme bom do Scorcese e vão dar o Oscar justo por esse.
Eu gosto de filmes que te fazem pensar. Gosto de roteiros bem amarrados, gosto de finais que te surpreendem. E gosto cada vez menos desses filmes “simples” só com ação desenfreada e sem sentido. Mas a Árvore da Vida não é nem um, nem outro.

18 comentários em “A Árvore da Vida

  1. Caro Leonardo, antes de qualquer coisa, muito obrigado por “rebater”, então, por favor leitores, deêm uma lida no poste dele… agora, andando com a vida (no caso a Árvore), é lógico que um filme não sobrevive sem um conflito, e você mesmo concordou com isso e até achou um punhado de conflitos para o filme de Malick, isso ainda, como você enfatiza, em um filme sem diálogos e cheio de imagens desconexas (o que não acho que seja, mas estou seguindo seu raciocínio), então, como um filme tão ruim, onde ninguén entende nada, pode ter tantos conflitos (já que você mesmo os enumerou)? Outra coisa, Em nenhum momento Malick coloca imagens desconexas, muito pelo contrário, o que ele faz é tentar exprimir um sentimento, uma ideia, por meio de uma montagem, de uma sequencia de imagens, e não simplesmente uma historinha… Mais longe ainda, quando lhe foi perguntado sobre o que seria seu próximo filme (antes de lançar àrvore da vida), ele respondeu que seria um filme sobre tudo, sobre o começo e o fim, e é isso que ele faz, que ele indaga, já que o fim é relativo, pode ser uma perda, um afastamento, um remorso e por ai vai… Árvore da Vida é realmente um filme que foi vendido como algo “pop” mas na verdade é uma experiência artística, e isso o grande público nao está realmente preparado para aproveitar.PS1: Leonardo, você disse que viu o filme em duas partes, então não foi no cinema… o que acaba sendo um ponto contra o filme, já que no cinema a imersão é muito maior…PS2: “Os Infiltrados” e “Onde os Fracos Não tem Vez” são filmes aquéns de terem recebido o Oscar? aqui fica uma dica de amigo, tente abrir um pouco mais seu leque cinematográfico por que ambos são filmes impressionantes…PS3: vou colar essa mensagem nos comentários do cinemaqui tb.

  2. Fala, Vinicius… grato pela resposta. Não sei se ficou claro no meu post que o que eu chamo de "conflito" é algo que "puxa a história", coisa que o filme não tem. O que eu enumerei não são conflitos, mas sim, "erros" de roteiro… (erros entre aspas porque são erros na minha visão pessoal).Mas enfim, opinião é opinião… não vamos chegar num consenso, nem sobre a Árvore da Vida, nem sobre os outros filmes… temos visões diferentes. Mas eu costumo manter o leque bem aberto, sim, cara. Só pra citar um exemplo, Amnésia, eu acho um puta dum filme, mas pouca gente gosta.

  3. é verdade, leonardo! que absurdo, um filme sem diálogos e sem conflito!! vou até mais longe, acho que talvez devessem ter dito ao pintor de "demoiselles d'avignon" que aquela não é a maneira correta de se fazer pintura, confundindo tanto os planos (afinal, todos sabem q pintura se faz com primeiro plano, segundo plano, perspectiva, fidelidade anatômica…). ou quem sabe, faltou alguém para ensinar ao autor de "twin peaks" que uma história precisa ter um final bem-amarradinho, que tranquilize o espectador que dedicou horas preciosas àquela série! e para dizer ao mesmo diretor que, em "cidade dos sonhos", ele tinha que seguir uma linha mais lógica, com menos extravagâncias artísticas. ou, para continuar no cinema, por que alguém faz um filme como "2001: uma odisséia no espaço"? é brincadeira, né? uma verdadeira falta de respeito com quem só quer comer sua honesta pipoquinha e se evadir dos problemas por umas horas… penso também que o escritor de "grande sertão: veredas" exagerou, afinal não se pode fazer um romance sem divisão em capítulos, muito menos com uma linguagem assim tão estranha… não vai ter leitores…. ninguém vai entender….. muito mais sucesso alcançou paulo coelho, e por quê? porque não tem essa arrogância de se achar vanguardista, experimentalista, seja lá o que for! qual é o objetivo de um produtor de conteúdo? divertir seu público e ficar famoso, o que passa disso só pode ser coisa de gente metida a intelectual…enfim, meu caro, fique em paz com suas limitações. arte é para poucos mesmo.

  4. É cada um que me aparece. Só porque eu não sou metido a intelectual de cinema, agora começam a me atacar pra babar ovo nesse filme ridículo. Aposto que mais da metade dos que dizem ter gostado do filme não entenderam bulhufas e estão elogiando só pra se acharem os entendidos em "cinema-arte".Então deixa eu explicar DE NOVO, pra quem não entendeu: todas as obras que você citou tem questões diferentes de NARRATIVA ou de ROTEIRO. Não tenho problema nenhum com isso e acho ducaralho quando os autores resolvem inovar. O problema, meu caro, é que o filme não tem CONFLITO. Usando as mesmas analogias que você descreveu, seria como fazer uma pintura sem tinta. Deixa eu tentar explicar o que é CONFLITO num roteiro pra quem não entende. Vamos pegar exemplinhos simples. Coração Valente. O conflito é que o herói precisa libertar seu povo. Indiana Jones e o Templo da Perdição. O conflito é que Jones precisa recuperar as pedras da vila. 2001: Uma Odisséia no Espaço. O conflito é o mistério em torno do monolito. Até filmes onde o conflito não é tão claro, como ERA UMA VEZ NA AMÉRICA, também possuem conflito. TODO filme que se preze precisar ter um.A Árvore da Vida NÃO TEM CONFLITO NENHUM. Isso não é questão de opinião, é fato. E particularmente, filme sem diálogos, pra mim, só se for documentário. Não vejo sentido. Mas essa é minha opinião. Acho que deixei bem claro no meu post que não estou pregando que se façam filmes "receitinha de bolo" e muito menos que seja um "crime" contra as pessoas que só querem comer pipoquinha, o autor inovar. Muito pelo contrário, adoro quando um autor ousa e faz algo diferente, como FONTE DA VIDA (esse, sim, um verdadeiro filme ARTE). Mas convenhamos, isso está cada vez mais raro hoje em dia. A Árvore da Vida pode ter tentado… mas a meu ver, não conseguiu. De novo: minha opinião, apenas.Agora não me venha com essa de que sou "limitado" por causa da minha opinião ou esse papinho de "arte é para poucos". Mas suponho que tenho que aceitar que chamem esse arremedo de filme de arte, tal como tenho que aceitar que chamem axé, funk e sertanejo de música.Desculpem aí se peguei muito pesado, é que o ignorante aqui não entende nada de arte…

  5. Leonardo, acho que não dá pra dizer que não é filme só porque não tenha conflito nem diálogos.Entendo seu ponto de vista sobre a importância do conflito para uma história (não só no cinema), mas os exemplos acima me fizeram pensar: e se o conflito for apenas um ponto entre outros, questionável por um diretor que queira inovar na linguagem? como 2001, que você citou, existe um conflito, mas o final é aberto demais, a ponto de várias pessoas acreditarem que se trata de uma piada do kubrick (tipo, "vou fazer um filme sem pé nem cbeça e todos vão me chamar de gênio").

  6. Acabei de descobrir que algumas sequências de FANTASIA, de Walt Disney, não são filmes! Afinal, em quase todas há historinhas, mas as imagens que acompanham a música de Bach, por exemplo, têm vida própria, sem dependerem de roteiro esquemático para funcionar. Como seu conceito é de que conflito é essencial para um filme, Leonardo, logo, aquela sequência não pode ser considerada um filme! Obrigado por me esclarecer, amigão!Agora, a sério. O conflito é um modo de segurar a atenção do espectador a um filme, como também a de um leitor a uma história/romance/conto. Mesmo na música houve experiências que tentaram igualar essa função exercida pelo conflito nas narrativas, principalmente na sucessão de acordes dissonantes e suas resoluções. Não que a música precise disso, afinal nem é uma arte narrativa, não se presta bem a contar histórias. Mas é compreensível que o conflito narrativo goze de tanto prestígio, pois parece (pelo que tem sido publicado na área de neurociências) que nosso cérebro é programado para encontrar significado em toda e qualquer situação, por inédita que seja, tentando identificar padrões e hábitos. Isso explica, a meu ver, a resistência sofrida por toda inovação radical (ou seja, profunda até as raízes). Como a arte, e mesmo a linguagem de modo geral, é algo artificial (a capacidade para a linguagem é natural, mas as linguagens que surgem daí não são absolutamente inevitáveis, mas construtos culturais), enfim, como a arte é artificial, nossas tentativas de impor-lhe uma compreensão que caiba em modelos prévios muitas vezes é infrutífera. Pois nada obriga a que se faça filmes sempre do mesmo modo, ou que se pinte quadros, ou que se escreva livros sempre de acordo com um cânone estético ou linguístico (em si mesmos artificiais, portanto questionáveis). Mesmo filmes inteligentes como os citados dependem de um mínimo de convenção se quiserem comunicar-se com um grande público, aquele que em geral aprecia bons filmes, sabe diferenciar um bom de um mau filme (de acordo com as próprias convenções), mas que não está a fim de questionar a linguagem cinematográfica, porque isso lhe parece inútil, desnecessário. OK, sem problemas. Mas há obras que não são feitas visando esse público.Filmes, e obras em geral, que não se preocupam em obedecer a um cânone (que parece nem existir, uma vez que as plateias já se habituaram a certas convenções após tantas décadas de cinema narrativo e linear) são incompreendidos mesmo! Ninguém é obrigado a gostar, muito menos a embarcar na viagem do autor. Conflito é essencial para se construir um roteiro coerente com o que se espera do cinema em termos convencionais. Mas a platéia que morreria de tédio diante de um filme que não contasse uma história seria responsável por ele, em parte. Porque acreditou quando lhe disseram "filme é isso".

  7. Agora a discussão ficou legal. Respondendo o primeiro:"(tipo, "vou fazer um filme sem pé nem cbeça e todos vão me chamar de gênio")". Aí era onde eu queria chegar. Por esse ponto de vista, poderíamos falar o mesmo do Malick.E respondendo o segundo:Concordo em quase tudo. Como eu disse, é acho ótimo quando um autor tenta fugir da "receitinha de bolo", em qualquer forma de arte. Só não acho que o conflito faça parte da receita, creio que ele esteja mais próximo da essência de uma história… não só de cinema, mas também em literatura, quadrinhos, etc. Mas, de novo: essa é só minha opinião e ninguém é obrigado a concordar com ela.Mas não sei se concordo quando você diz que a platéia seria em parte responsável por "morrer de tédio". Claro que isso varia muito de filme pra filme…

  8. O Leonardo está certo, o filme é chato. Achei muito boa a ideia de um filme sobre os questionamentos da vida, Deus, a existência na terra, e todas estas coisas, por isso assisti ao filme. Mas o que foi pra tela poderia ter sido melhor. NÃO TEM DIÁLOGO. Cansa o espectador.Acho que quem gostou, gostou do que refletiu, e da oportunidade de refletir sobre o tema abordado.Porém aquelas imagens… humm… e todas aquelas cenas só com expressões dos atores sem um fechamento para a história. Para um filme, foi chato, me senti cansada e não vi a hora do filme acabar.

  9. Leonardo,você é o cara!Esse filme é pior que já vi na vida,porcaria total e como você disse sem conflito.Achei ótimo você citar a cena do filme ''adaptação''.Leiam o livro ''Manual do Roteiro'' de Syd Field(Um profissional de Hollywood que avaliou milhares de roteiros,entre os anos 50 a 80,e deu aula de roteiro em uma escola de cinema),veja como ele explica como o roteiro,como iniciar,conflitar e acabar.Como montar um personagem,por exemplo um personagem precisa de alguma coisa para que puxe a história(roubar um banco,salvar inocentes,prender alguém),essa coisa é o conflito.E o que os personagens de arvore da vida precisam?morrer?encher o saco do filho mais velho?jogar um vestido no rio?Se fosse um diretor novato,depois disso ele nunca mais teria sucesso,mas como é mallick tem seu nome em hollywood todos elogiam.Agora Mallick deve ta se achando tá concorrendo ao oscar e acha que fez um filme que resume a vida,vai se f%#$$ Mallick,nunca mais faça um filme.Sem chance de ganhar oscar,afinal dois filmes mudo estão concorrendo ao oscar,O Artista e A Arvore da Vida.

  10. Em primeiro lugar, eu não gostei do filme. Achei que os temas foram trabalhados de maneira muito superficial e pretensiosa. Colocar frases e imagens soltas e colocar atores para fazer cara de conteúdo para dar significado ao filme é de uma baixeza deplorável. O engraçado é que eu gostei mesmo de "Além da linha vermelha" e "Terra de ninguém". Esperava mais do diretor.Em segundo, houve quem elogiasse desesperadamente os aspectos imagéticos do filme… Uma dica: assistam Bergman que já foi mencionado aqui. Imagens em preto e branco, mas muito mais belíssimas do que as de "Árvore da vida". Resumindo, filme bom não significa filme complicado e imagem boa não significa alta saturação de cores.

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