Nesse final de semana estreou o novo filme tendo Johnny Deep como astro, Inimigos Públicos. Como fãzaço de filmes de gângsters, não pude deixar de conferir.


O filme conta a história real de John Dillinger, famoso assaltante de bancos nos EUA dos anos 30. E procura ser extremamente fiel ao que realmente aconteceu naquela época, mas talvez justamente aí resida a falha do filme. Quer dizer, se era para contar a história de Dillinger exatamente do jeito que aconteceu, era melhor ter feito um documentário, não? Interessante seria se o diretor, Michael Mann, tivesse apenas se baseado na história para criar algo mais emocionante, pois é isso que falta no filme: emoção.
Não chega a ser um filme ruim, mas não existem diálogos ou cenas marcantes, o que chega a ser um desperdício, tendo astros como Deep e Bale na telona. E os dois contracenam apenas uma vez no filme todo, e Bale praticamente fica calado na cena toda.
A caracterização da época está impecável… os carros, cenários, armas, e até o visual de Deep como Dillinger. Compare com o original:

No entanto, como já foi dito, o filme carece de emoções mais fortes.
Mas espere aí, o filme é TÃO fiel assim à história real? Bom… eu diria uns 90%, para mais. Para quem quiser saber mais sobre Dillinger e as gangues da época, eu recomendo o livro “A Verdadeira História do Banditismo”, que narra a história da criminalidade nos EUA desde a década de 20, quando foi instituída a Lei Seca, até meados da década de 70/80. Muito bom.
Mas se você, pequeno gafanhoto, está com preguiça de ir até a biblioteca de sua cidade para pesquisar, eu faço um breve resumo para você. Evidentemente que, se você ainda não viu o filme, vale o aviso de spoilers.

Quem era John Dillinger?

Quanto à sua origem, há uma certa diferença com a história real e uma fala de Deep no filme. Sua mãe realmente morrera quando ele era jovem, mas Dillinger nascera rico e, apesar de seu pai não demonstrar-lhe grande afeto, nada lhe predestinava para a vida do crime. Essa pequena alteração deve ter ocorrido porque ficaria difícil explicar na película, apesar de suas 2 horas e 20 minutos de duração, como foi que ele se tornou o maior praticante de assalto a bancos (chamado lá de “hold-up”) da Grande Depressão, se não tinha razões para isso.
O fato é que Dillinger sempre gostou de aventuras. Quando garoto, organizou uma pequena gangue com a qual praticava furtos pequenos. Mais pela emoção do que por qualquer outra coisa. Foi com um tal de Ed Singleton que ele assaltou o Sr. Morgan mencionado no filme. Ingênuo na época, acabou confessando o crime e pegou 10 anos.
É na prisão que conhece aqueles que se tornariam os membros de sua gangue. Esse tempo lá lhe endureceu e, de reles travesso, passou a realmente ser um “bad boy”. Sua esposa pede divórcio em 1929 e ele sairia em liberdade em 1933, ficando encarregando de libertar o resto da gangue.
É aqui que começa o filme… a grande aventura de Dillinger, que duraria 14 meses.
Logo pôs em prática alguns conselhos dos amigos e conseguiu assaltar dez bancos em três semanas e em cinco estados diferentes. Em 17 de Junho, ousa assaltar sozinho um banco à luz do dia. Tal audácia irrita um tal de Matt Leach, chefe da polícia de Indiana. Leach busca informações do meliante e torna-se obcecado em arrancar-lhe a pele. Passará a seguir sua pista rigorosamente, enquanto Dillinger prepara a evasão dos amigos.
Ao mesmo tempo em que conhece novas paixões, como Marie Longmaker, irmã de Jenkins, convence um distribuidor duma fábrica de camisas chamado Gordon a entregar certos pacotes e a seus amigos. Pacotes contendo pistolas e metralhadoras desarmadas, como é visto logo no começo do filme.
A esta altura, Dillinger já é chamado de “Dan, o Terrível”, mas é um bandido de hábitos, facilitando para que Leach o surpreenda na casa de Marie. Dillinger é preso novamente, mas seus amigos conseguem montar as armas e preparar o grande golpe. Rendem alguns guardas e correm para a saída, quando começa a chover, o que aumenta a confusão. Eles desaparecem, indo se esconder na casa de Mary Kinder, antiga amiga de “Dan”.
Depois de assaltarem um banco em Hamilton, preparam-se para libertar Dillinger em Lima. E assim o fazem, fuzilando o xerife Sarber e resgatando-o a 12 de Outubro. A gangue está de volta à ativa e logo, em 23 de Outubro, armam um ousado golpe no banco de Greencastle, Indiana. Hamilton distrai as pessoas fingindo estar encenando para o filme “Fui assaltante de bancos”, enquanto Dillinger e Pierpont sacam suas pistolas e assaltam o banco na maior tranquilidade.
Matt Leach tem um dos maiores ataques de cólera de sua vida. Dillinger aproveita e divirte-se lhe enviando postais ou lhe telefonando eventualmente. São diversas as perseguições, mas Dillinger sempre consegue escapar. O cerco vai se apertando, a gangue se separa por uns tempos, Dillinger e Billie Frechette vão passar as festas de fim de ano em Dayton Beach.
A gangue se reencontra e em 15 de Janeiro de 1934, atacando o First National Bank de East Chicago. Chegam a fazer o agente Wilgus, da polícia, de refém, para conseguirem escapar. No entanto, surge na fuga o agente Patrick O’Malley para resgatar o companheiro. Dillinger é protegido pelo colete á prova de balas, mas Hamilton é ferido. O´Malley é abatido, embora as circunstâncias de seu assassinato e seu autor nunca tenham sido inteiramente esclarecidas.
Pouco depois eles refugiam-se numa cidadezinha no Arizona, Tucson. E acontece que a 23 de Janeiro há um princípio de incêndio no hotel onde eles se encontram. Os bombeiros ajudam Clark e Mackley a salvarem suas bagagens – bagagens estas demasiadamente pesadas, pensa consigo o bombeiro William Benedict. Will reconhece os meliantes e informa a polícia, que dois dias depois acaba prendendo a gangue toda, para desespero de Leach, horrorizado com o feito da polícia local, que conseguiu fazer o que ele há meses tentava. Tal episódio é rapidamente resumido no filme com Hamilton simplesmente dizendo que os bombeiros tinham visto as armas das gangues.
Dillinger vai para Lake, Indiana, na prisão de Crown Point, enquanto os demais são encarcerados em Ohio. Demora apenas dois meses para uma nova fuga: Billie retorna, aprisiona os guardas numa cela vazia e liberta Dillinger, que usa o adjunto do xerife Ernest Blunk como escudo para poder escapar. Roubam um automóvel da garagem da prisão: um Cabriolet V8m novo e reluzente. Quem viu o filme deve se lembrar dessa cena.
Com seus companheiros encarcerados, Dillinger acaba formando novo bando. Da velha guarda, restaram apenas Hamilton e van Meter. Juntam-se à eles Eddie Green, Caroll, “Baby Face” Nelson.
A gangue começa seus hold-ups em Dakota do Sul, passando por Mason City logo em seguida. Há tiroteio, gás lacrimogênio, reféns. Os bandidos escapam novamente, enquanto Pierpoint e Mackley são condenados á cadeira elétrica pelo assassinato do xerife Saber.
Hoover localiza o bando em St. Paul e invade a casa. Green é abatido, mas os demais conseguem fugir, separando-se. Ferido, Dillinger vai com Billie para Mooresville novamente. Revê o pai e os amigos, o povo da cidade já não lhe guarda rancor. De volta a Chicago, Billie é presa numa cervejaria. O bando reencontra-se e procura abrigo numa estalagem perto de Rhineland. O dono logo percebe que seus hóspedes andam armados e a sua esposa fica intranquila, notificando o caso ao irmão. Não tardam a reconhecer Dillinger e alertam o F.B.I.
Os agentes Clegg e Purvis comandam esquadrões de “G’men” e os atacam num bordel. Há tiroteio, mas Dillinger, van Meter e Hamilton escapam pela janela, enquanto Caroll cobre seus companheiros e os segue em seguida. Nelson foge por outra direção e rouba um carro do F.B.I, deixando cerca de quatro cadáveres para trás (e não apenas um, como mostrou o filme).
Com Hamilton ferido na cabeça, Dillinger vai ao encontro do Dr.Moran, em Chicago. Um médico irradiado que caíra em desgraça, limitando-se a salvar gãngsters em fuga. Típico personagem de filme, que infelizmente não apareceu na película de Michael Mann. Hamilton acaba morrendo, seus companheiros o enterram depois de jogar cal viva nos rostos e nas mãos para evitar a identificação.
Caroll é o próximo, abatido numa garagem. Com a gangue praticamente dizimada, Dillinger não tem opção a não ser fugir. Faz cirurgia estética para mudar o rosto e as impressões digitais. Em 19 de Junho faz 31 anos e é declarado Inimigo Público Número Um. Recompensa pela captura: 10.000 dólares. Informações: 5.000. A irmã publica uma nota lhe desejando feliz aniversário.
Começa a faltar dinheiro novamente. Com os gângsters remanescentes, Dillinger organiza um novo hold-up, no Merchants National Bank. Dois reféns são feridos, alén da van Meter.
Ainda em Chicago, Dillinger acaba conhecendo Polly Hamilton, seu último erro. Polly morava com Anna Sage, uma antiga dona de bordel com seus 40 anos, imigrante ilegal. Acaba aceitando negociar sa estadia nos Estados Unidos em troca do paradeiro de Dillinger, além, é claro, de levar os 5.000, cena mostrada rapidamente no filme, sem mencionar o dinheiro.
22 de Julho. Dillinger iria sair com Polly e sua amiga, iriam ao cinema. Anna alerta o F.B.I., que cerca o “Biograph”, onde passava “Melodrama in Manhattan”.
Pulvis e Sam Cowley organizaram o plano sem alertar a polícia local, o que quase pôs tudo a perder, já que uma viatura os confundira com meros bandidos. A situação se esclarece e, às 22:50h, os espectadores começam a sair. Anna saía com um vestido vermelho e acendia um charuto. Era o sinal. Tais fatos foram ligeiramente alterados no filme, talvez para dar mais destaque ao papel de Bale.
Dillinger percebe que algo começava a acontecer, mas pega a pistola tarde demais. O agente Hermann Hollis dispara duas vezes, atingindo no flanco e na nuca, já que a segunda bala atravessara-lhe o olho. Dan, o Terrível, tomba morto. Nelson se vingaria, matando Hollis numa estrada do Estado de Wisconsin, sendo mortalmente abatido. Pierpoint e Mackley encontram a cadeira elétrica e Clark morre ao tentar fugir.
Hoover, o manda-chuva do FBI na época, orgulhava-se de ter cumprido a missão e guardava, no saguão do Bureau, os vestígios de John Dillinger, como um troféu a ser exibido: sua máscara mortuária, seu chapéu de palha, uma fotografia amarrotada de uma jovem pouco gorda, um par de óculos partidos e um havano ainda envolto em papel celofane…

3 comentários em “Inimigos Públicos

  1. acabei de ver o filme… no cine.realmente, senti falta daquela tal "emoção", mas o filme nao deixa a desejar!gostei do seu texto e ele esclarece algumas coisas que pra mim tinham passado batidas.=)

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